MODERNIDADE E ECONOMIA SOLIDÁRIA.UMA EXPERIENCIA VALIOSA!


No passado dia 10 de Fevereiro, a Cooperativa “Terra Chã” recebeu a visita do sociólogo e economista francês, Jean-Louis Laville, professor no Conservatoire National des Arts et Métiers (Cnam) e de Anne Salmon professora na Universidade Paris Dauphine, filósofa e socióloga das organizações.
A visita teve o enquadramento do prof. Rogério Roque Amaro, professor de Economia Social no ISCTE, que trouxe os dois investigadores franceses até Chãos para discutir, in loco, uma experiência consolidada de desenvolvimento local que articula economia, cultura e ambiente, contribuindo para a criação de riqueza local e estruturando a vida sócio-económica da aldeia de Chãos.
Jean-Louis Laville é ainda co-director do Laboratoire Interdisciplinaire pour la Sociologie Économique (CNRS) e a nível europeu é coordenador du Karl Polanyi Institute of Political Economy.
Este investigador francês aborda a pertinência e a actualidade da economia solidária como factor de inovação e de modernidade.
Por sua vez, Anne Salmon dedica parte da sua investigação à ética na economia, considerando que se atingiram limites insustentáveis, como por exemplo, a promiscuidade e o conluio entre o poder político e o poder económico.
Depois de uma visita às valências da Cooperativa, os três professores universitários trocaram ideias com os formandos dos cursos EFA que estão a decorrer na cooperativa “Terra Chã”.

Como consequência da visita, os dois professores universitários franceses produziram um artigo de reflexão sobre o trabalho desenvolvido na Cooperativa “Terra Chã” e que se anexa.

A cooperativa Terra Chã é composta por uma meia dúzia de construções, algumas delasrecentemente renovadas, por detrás das quais se perfilam alguns geradores eólicos e uma pedreira.Somos recebidos por António Frazão e a visita pode então começar.O que chama desde logo a atenção é a diversidade de projectos e de realizações. O que não temnada a ver com a mono actividade industrial que nos faz recordar o barulho de fundo dos camiõesque transportam incansavelmente as pedras que alguns operários retiram da Natureza todos os dias.Um restaurante, um centro de alojamento, um centro de formação, um centro cultural, actividades agrícolas e artesanais, entre outras, estão ali reunidas e articuladas.

Dão emprego e rendimento a seis trabalhadores a tempo inteiro e com contratos estáveis, para além de outros mais episódicos.No restaurante está afixada uma oferta de emprego. A cooperativa pretende contratar um pastor.Ilhéu de resistência à modernidade, que ganha terreno como sugerem as silhuetas das antenas eólicas? Seguramente que não. O perfil deste guarda de cabras está longe de ser tradicional.

Também neste caso a multi-actividade prevalece: agente de preservação do ambiente, animador turístico, agricultor, o pastor não ficará fechado sobre si próprio tendo como único horizonte ascerca de 300 cabras previstas (60 no início). O rebanho também será bastante especial. Primeiro,porque são cabras que, uma vez que se alimentam de certo tipo de plantas, vão preservar abiodiversidade, permitindo reforçar a presença de uma ave típica da região (a gralha-de-bico vermelho),que está em vias de extinção. Depois porque os animais serão comprados por subscrição das pessoas interessadas. Mediante uma centena de euros todos podem participar na compra de uma cabra. Em troca de tal, a cooperativa oferecerá um dia de caminhada com o pastor, queijos e um repasto comunitário.E se a modernidade estivesse do lado da cooperativa? A combinação e o cruzamento de iniciativas que António Frazão e Júlio Ricardo nos explicam contêm múltiplas inovações económicas e sociais.

Antes de mais, há uma conjugação de diferentes recursos: alguns são mercantis, uma vez que provêm da venda de produtos e do restaurante; outros são públicos, através, por exemplo, da possibilidade de utilização de infra estruturas públicas locais e das ajudas atribuídas às pessoas em formação; outras ainda resultam do trabalho de muitos voluntários.O que se compreende, à medida que discutimos com todas as pessoas que encontramos, é que a cooperativa tenta uma outra forma de fazer economia. A organização do trabalho e a colaboração dos trabalhadores, dos voluntários e também dos clientes contribuem para democratizar a vida quotidiana na organização, mas também o serviço social prestado.

As pessoas que beneficiam de uma formação qualificante durante 12 ou 14 meses, segundo o nível de escolarização visado, têmtambém uma palavra a dizer. E algumas delas juntar-se-ão ao projecto conjunto, uma vez que todas são incitadas a imaginar novas actividades que poderão vir a ser enquadradas na cooperativa.Uma das ideias directrizes é visivelmente a valorização e a mobilização dos recursos, das pessoas edos espaços.

O projecto luta por uma integração dos participantes, que se recusa manter fechados numa tarefa ou estatuto particular, por uma integração da cooperativa na aldeia, mas também por uma integração das dimensões culturais, económicas, sociais e ambientais. Isto passa por pequenasacções que, experimentadas e capitalizadas desde há 24 anos, produzem os seus frutos. Aparticipação de artesãos da aldeia na renovação dos locais ocupados, a de jovens nas actividades de danças folclóricas, a de universitários, de especialistas florestais, de professores, entre outros, fazem desta cooperativa o palco de uma miscigenação cultural, mas também o lugar propício à partilha derecursos técnicos, científicos e de saberes-fazer tradicionais.

A cooperativa atribui uma importância muito particular às relações com a aldeia. Alguns pormenores o testemunham. Os dormitórios, por exemplo. Estão arranjados com camas individuais sobrepostas. Servem para os jovens, mas incitam, pelo contrário, os casais a procurar, junto dos habitantes locais, outras soluções de alojamento.Encontrámos dois grupos em formação. Entre as pessoas presentes, várias eram da aldeia, outras davila próxima. Esta formação é remunerada. Visa mais a inserção profissional do que a inserção social, por isso se dirige mais directamente às gentes das terras vizinhas.Esta cooperativa de Economia Solidária assegura um desenvolvimento do território local, que alguns julgarão sem dúvida modesto.

Mas, no final desta visita, o que impressiona é a durabilidadedo edifício económico, social, cultural e ambiental que se constrói pedra após pedra há mais de 20anos. O que também impressiona é a maneira como ela se integra na vida local.Neste período de crise, em que se paga tão duramente as derrapagens do capitalismo financeiro e da economia predadora (em França são 45 000 empregos perdidos num só mês, são mais de 300 mil milhões de euros de apoio do Estado aos bancos privados), a inovação económica, tal como adesenvolvida no quadro da Economia Solidária, está necessariamente no centro dos debates dofuturo.Ver

1 comentário:

Meknèsa M disse...

Olá, boa tarde!

Estou a fazer um trabalho sobre a Terra Chã e ainda não consegui encontrar nenhum artigo e/ou livro sobre esta cooperativa.
Gostava de saber como teve acesso ao artigo do Laville sobre a Terra Chã e se tem conhecimento de outros..

Pode-me ajudar?

Obrigada,
Marta

PS. Está aqui um blog muito interessante :)