ENTREVISTA A SINDICALISTA DA NESTLÉ !


Joaquim Mesquita é um jovem sindicalista da alimentação e bebidas ,pertence ao Conselho de Empresa Europeu da Nestlé e ao Conselho Nacional da CGTP. Militante da Base - FUT tem participado em várias iniciativas internacionais. A nosso pedido respondeu a estas três questões:

- Como aprecias a actuação da Nestlé nesta crise?
- Podem os CEE sair reforçados pela necessidade de um maior controlo da gestão e dos gestores na economia?
- Achas que os sindicatos estão a responder adequadamente à crise?

1. Tendo em conta a dimensão da crise, que da área financeira se estendeu à área económica, a Nestlé parece quase incólume. Apesar de algumas quebras de procura em alguns produtos, os volumes de produção têm mantido um bom crescimento e não há notícia de consequências negativas para o emprego tanto a nível europeu como nacional, onde se tem registado até (na fábrica de Avanca) a passagem ao quadro de um número razoável de trabalhadores, tendência que se mantém para este ano.
Para este sucesso contribuem vários factores. Primeiro, a utilização da tecnologia e mão-de-obra adequada aos objectivos de produção, de mercado e financeiro programados, o que permite um nível ajustado de desenvolvimento sustentável. Em segundo lugar, uma resposta eficaz e proactiva às necessidades de mercado, que neste momento se manifesta no “Programa Wellness”, “de bem-estar e saúde”, através da apresentação de produtos que manifestam interesse com a nutrição, saúde e bem-estar dos consumidores. Em terceiro lugar, a aposta em produtos de alto valor acrescentado. E – também – uma presença a nível global, com uma boa imagem de marca.
As condições de trabalho e emprego a nível global são muito heterogéneas. E embora os trabalhadores de alguns países da Europa ocidental (mas também, e em especial, da Rússia) e de Portugal se queixarem de degradação salarial, os salários são pagos atempadamente.

2. Os CEE (Conselhos de Empresa Europeus) têm uma excelente oportunidade de se afirmarem. Têm, contudo, de reforçar a sua capacidade de estabelecerem redes de comunicação quer com as organizações sindicais quer com os delegados / representantes dos trabalhadores nos CEE para que as questões possam ser recolhidas, tratadas e ganhar força nos encontros com as administrações, onde terão de ser colocadas de forma a que os representantes dos accionistas se sintam obrigados a responder e não possam contornar as questões sem que o facto se torne evidente.
É também uma boa ocasião para pressionar as administrações e gestores a assumirem compromissos com os trabalhadores, superando os tradicionais “códigos de conduta” e “princípios corporativos” de carácter unilateral e de aplicação arbitrária.
Naturalmente, as organizações que intervêm no Conselhos devem exercer influência a nível global no sentido de pressionarem as decisões políticas e promoverem uma outra ordem económica e social que possa ultrapassar as injustiças deste sistema capitalista e neoliberal.

3.Os problemas dos trabalhadores são os problemas das suas estruturas representativas: desemprego, precariedade, salários baixos...
O trabalho que algumas estruturas sindicais estão a realizar (embora haja algumas com uma organização muito fechada) para conjugarem esforços e delinearem estratégias em várias áreas, nomeadamente na contratação colectiva e na mobilização dos trabalhadores, mostra até que ponto estão conscientes da necessidade da adopção de uma postura adequada ao momento. Essa postura terá de caracterizar-se por um estado de permanente vigilância e por uma capacidade de tomar decições com rapidez e agilidade, condições importantes num contexto de mudanças constantes.
Por outro lado, a mobilização dos trabalhadores terá de continuar a ser feita através do incentivo à participação e exercício da cidadania, e segundo o princípio da subsidiariedade, combatendo os seguidismos, o conformismo e o fatalismo.
A área sindical é, assim, um espaço privilegiado para a promoção da solidariedade e da democracia.

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