SINDICALISMO AUTÓNOMO?

Joao Proença, numa entrevista em Junho passado, depois de dizer que a CGTP defende um sindicalismo de conflito e não tem autonomia contrapunha a sua UGT como exemplo de central autónoma! Impressionante porque a UGT é de facto produto de um pacto de dois partidos-PS e PSD- tendo ainda a colaboração do CDS/PP. Tudo de essencial é negociado a nível das duas correntes partidárias! O mesmo acontece na CGTP, embora com um menor equilíbrio a favor da corrente sindical do PCP que é largamente maioritária na estrutura sindical, embora o não seja em termos de bases trabalhadoras.

Podemos assim concluir que o sindicalismo em Portugal depende fortemente do militantismo partidário e da logística dos partidos políticos. A corrente sindical que defende e defendeu sempre a autonomia sindical, a BASE-FUT, foi sempre minoritária no sindicalismo português. Desde cedo, logo após a Revolução de Abril, a tentaram absorver no Partido Socialista. Sofreu pressões de altos dirigentes daquele Partido e da CFDT francesa para que tal viesse a acontecer! Os «basistas» resistiram! Até á «Carta Aberta» e formação da UGT para onde foram alguns quadros, em particular dos sindicatos dos seguros e bancários! Mas porque esses sindicatos históricos foram construir a nova Central! Ali mantiveram uma ação sindical autónoma! A maioria continuou na CGTP desde o célebre Congresso de todos os sindicatos em 1977.Aí defende, com outros sindicalistas, a autonomia e unidade dos trabalhadores!

Para quem não conhece a história sindical portuguesa considera contraditório que, sendo defensora da autonomia, a BASE-FUT tenha continuado na CGTP. Foi uma opção nem sempre compreendida por todos. Para alguns em 1974/75 a Base deveria ter criado uma central sindical de inspiração cristã. Existiram pressões na altura vindas de alguns setores, nomeadamente eclesiásticos! Os militantes da BASE decidiram outro caminho. O princípio geral do militantismo cristão era não dividir os trabalhadores e dizer não a partidos e organizações confessionais. A opção era estar com os outros portugueses nas organizações políticas e sociais.

A maioria dos quadros sindicais em Portugal considera que o sindicato obedece ao partido! Por vezes exageram e transformam o sindicato num parlamento. Confundem pluralismo sindical e filosófico com pluralismo partidário! Caem no ridículo por vezes, quando defendem as políticas dos seus dirigentes políticos no governo ou na oposição!

Carvalho da Silva na CGTP desenvolveu toda uma estratégia de progressiva autonomia na Central. Os mais partidários não lhe perdoaram! O Partido tinha medo de perder a Central! A solução Arménio Carlos foi uma resposta a esta questão! Mas se o PCP entende o sindicalismo como elemento de luta para aprofundar as contradições desta sociedade o PS e PSD entendem, em geral, o sindicalismo como elemento integrador dos trabalhadores na sociedade capitalista! Ambas as conceções são de «o partido é quem mais ordena!» Ambas as conceções consideram que os partidos dirigem a classe trabalhadora!

Pelo contrário, a conceção autónoma do sindicalismo considera que os trabalhadores e as suas organizações podem gizar a sua estratégia e defender os seus interesses num dado quadro político! Ora aqui os sindicalistas de partido não concordam, claro! Para eles o partido é o comandante, o comité central ou a comissão política é que são os únicos capazes de avaliarem e darem a orientação politica!

P. Pires





1 comentário:

fec disse...

parece que afinal teria valido a pena ter criado uma central sindical de inspiração cristã...