O acesso e integração no Mundo do Trabalho torna-se na forma de reconhecer ao homem a sua
plena realização como ser social, útil e produtivo. Porém o mercantilismo laboral tem teimado em submete-lo à lógica da servidão de quem trabalha, sob a ganância da acumulação de riqueza, pelo grupo, cada vez mais pequeno, dos mais poderosos.
Quando nos questionamos sobre o trabalho em si rememora-nos por um lado uma perspectiva bíblica em que Adão e Eva são expulsos do Paraíso e condenados ao trabalho para se sustentarem e por outro o conceito Marxista que trabalho é escravidão e que converte os assalariados em escravos que vendem a força do seu trabalho a troco do seu sustento.
Tanto uma como outra surgem hoje já tão desajustadas que os próprios Movimentos a que deram origem, as contradizem: Na perspectiva Marxista os partidos comunistas e os sindicatos passaram a defender o trabalho como um direito de todos os cidadãos; Na perspectiva da Igreja, Bruto da Costa tem descrito abundantes citações de muitos Papas que referem o trabalho como uma dádiva de Deus para a dignificação do Homem.
O acesso e integração no Mundo do Trabalho tornou-se na forma de reconhecer ao homem a sua plena realização como ser social, útil e produtivo. Porém o mercantilismo do trabalho tem teimado em submete-lo à lógica da servidão de quem trabalha, sob a ganância da acumulação da riqueza.
Hoje não são apenas “os detentores dos meios de produção” (do tempo de Marx), mas e sobretudo os detentores do capital através dos instrumentos financeiros que por seu turno dominam o poder económico, constituindo poderosos lobbies económico-financeiros aos quais não escapa sequer o domínio dos próprios órgãos de comunicação social…
Assistiu-se nas ultimas décadas a uma gigantesca acumulação da riqueza num grupo cada vez mais reduzido de ricos a par com crescimento do “exercito de excluídos” do Mundo do Trabalho e com a degradação das condições dos que trabalham.
O avanço tecnológico, a globalização económica e informativa, a internacionalização do trabalho e as nano-tecnologias, não se têm traduzido numa maior felicidade para todos os homens, mas num aumento das desigualdades entre eles.
A OIT aponta hoje “o Trabalho Digno como a chave para o Desenvolvimento Global” e refere: “Actualmente, o principal objectivo da OIT consiste em promover oportunidades para que mulheres e homens possam ter acesso a um trabalho digno e produtivo, em condições de liberdade, equidade e dignidade.” – Juan Somavia, Director-Geral da OIT
A mesma OIT divulgou também esta semana um relatório preocupante sobre o trabalho dos Jovens, no qual referiu mesmo “Geração Perdida”. Uma designação que também o secretário Geral das Nações Unidas Ban Ki-moon, se referira nos mesmos termos, já há meses atrás. Numa mensagem a propósito do Dia Internacional da Juventude, 12 de Agosto de 2012.
Segundo o relatório da OIT “ 73,8 milhões de pessoas entre 15 e 24 anos no mundo estão sem trabalho, de um total geral de 197 milhões, e que a frágil recuperação da atividade econômica pode elevar em 500 mil o número de desempregados nessa faixa etária já em 2014 “. Prosseguindo que” 35% de todos os jovens desempregados nas economias avançadas estão desempregados por seis meses ou mais tempo, ante a 28,5% em 2007”.
Isto significa que apesar dos nossos impostos e contribuições pagas, o nosso investimento na educação e formação dos nossos filhos. O esforço e espectativas a que os desafiámos lhes criámos, terão sido em vão vistas por nós e desoladoras vistas por eles.
Na geração dos nossos filhos, dois em cada cinco vão atingir a idade da reforma sem terem entrado no Mundo do Trabalho.
Sobre os outros três em cada cinco que terão uma experiência de trabalho, diz o mesmo relatório que “56% dos jovens portugueses trabalhavam com contratos a prazo no ano 2011”.
Uma realidade severa para a Juventude, nesta ocasião em que trazemos à liça o Trabalho Digno como um direito da humanidade.
Porém tal como diz a directiva da OIT “O trabalho digno deveria estar no centro das estratégias globais, nacionais e locais que visam o progresso económico e social.”
Assim como o secretário Geral da ONU o ano passado também referiu, a inversão deste sentido só se consegue com uma determinação global.
Por cá vamos sentido a pressão e dentro do possível vamos reagindo, mas verificamos que uma manifestação dos reformados à segunda-feira, uma dos professores à terça, outra dos enfermeiros à quarta-feira e uma greve dos transportes à sexta-feira, não são suficientes nem para derrubar um Governo, quanto mais para fazer inverter o rumo das politica no País. E o que por seu turno não faria mover o rumo da Europa nem tão pouco alterar a lógica global.
Precisamos de alguma criatividade, de novas estratégias, de muito engenho e até de muita solidariedade internacional para não deixar cair os braços, lutar e ter força para inverter o sentido desta lógica que continua a entender o trabalho como escravidão.
Jorge Santos-Jornalista e Animador Sociocultural
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