JORGE SANTANA: Trabalhar por turnos é penoso!

Jorge Santana nasceu em Odemira, Alentejo e trabalha na Repsol de
Sines onde  coordenou a Comissão de Trabalhadores da empresa e foi membro do Comité europeu de trabalhadores.Trabalha por turnos há muitos anos e é atualmente Operador de Sala de Controlo e delegado sindical.Formado em Sociologia foi também formador  de técnicos na empresa e pertence à Comissão para os Assuntos do Trabalho da BASE-FUT.A sua experiência em organizações de trabalhadores e ação sindical torna pertinente e atual o seu breve e significativo depoimento.
 

1ª  Trabalhar por turnos é hoje mais difícil para ti do quando eras
mais jovem? Como avalias este tipo de trabalho?

Na sociedade atual muitas empresas recorrem à laboração contínua no sentido de rentabilizarem a produtividade. É o caso da empresa onde trabalho há 34 anos em regime de turnos. O trabalho em turnos são formas de organização da jornada diária de trabalho em que são realizadas actividades em diferentes horários ou em horário constante ou inconstante. O turno é resultante das mesmas actividades realizadas em diferentes períodos do dia e da noite. Nas grandes indústrias trabalha-se geralmente em turnos seguidos, e nas empresas apresenta-se na forma de turnos irregulares (pelo facto de acumulação de trabalhos nos diferentes horários). Quando se é jovem este regime de trabalho consegue ser menos penoso do que é agora. Pois o desgaste físico e psicológico que provoca é grande causando prejuízo quer físico (problemas de sono, problemas do sistema digestivo, entre outros), quer social (vida paralela em relação ao resto das pessoas, causando prejuízo no relacionamento com amigos e família). Há que ter uma disciplina muito rigorosa que vai sendo assimilada com o tempo em turnos. Hoje em dia já me custa bastante fazer as noites, pois resistir ao sono é muito penoso. Considero o trabalho por turnos, um mal necessário na nossa sociedade uma vez que os médicos, enfermeiros, soldados, forças de segurança e pessoal da indústria não podem deixar de trabalhar neste regime uma vez que fazem falta na nossa sociedade. Contudo este desgaste deveria ser compensado pelo esforço que provoca, estou a pensar por exemplo um regime de reforma mais cedo pelo que seria justo e merecido.

2ª  A tua experiência na comissão de trabalhadores valeu a pena? Como
foi feita a articulação da Comissão com os sindicatos? Conseguiu unir
os trabalhadores ?

A minha experiência na comissão de trabalhadores valeu a pena com certeza, foi uma experiencia bastante gratificante que tive durante uns 4 mandatos. No primeiro mandato foi complicado, houve uma redução de pessoal devido às novas tecnologias e também a manutenção passou a ser emoutsourcing”. Por isso a administração achou por bem haver uma restruturação a nível de pessoal. Foi difícil arranjar consensos com a administração mas sempre se mantiveram bastantes postos de trabalho. A articulação com os sindicatos era feita em paralelo uma vez que dos 5 elementos que compunham a CT, 3 eram delegados da CGTP 1 da UGT e outro trabalhador simpatizante a CGTP. Deste modo havia compromissos e consensos entre os elementos da CT, e os respectivos sindicatos. Não havia contudo uma união muito consistente entre os trabalhadores uma vez que; por um lado eramos apoiados maioritariamente pelos trabalhadores da produção, (que na maioria são dos turnos), e manutenção; por outro lado eramos menos apoiados pelo pessoal de recursos humanos e de horário normal. Estas divergências acentuavam-se por motivos políticos.

3ª A acção sindical  na tua empresa está a ser eficaz na defesa dos
direitos dos trabalhadores? Quais as limitações e caminhos?
 
A acção sindical já foi mais eficaz do que é agora. O historial de lutas laborais nos anos 80, reflecte-se no que hoje temos de bom para os trabalhadores através do acordo de empresa que temos. Este é muito mais vantajoso do que o código de trabalho, sem dúvida. As limitações que temos é a desunião entre as duas centrais sindicais. Esta desunião veio deteriorar as regalias que tínhamos e quem ganhou com isso foi o patronato. A estratégia da empresa foi na última década principalmente descredibilizar a central sindical da CGTP, que por sinal era que tinha mais associados sindicalizados. Conseguiram isso através de conflitos que foram ganhando em prejuízo dos trabalhadores. A desmotivação foi de tal ordem que houve uma fuga maciça para a outra central e houve outros que deixaram o sindicato. Hoje a CGTP não tem força aqui na empresa, deixando o seu espaço de acção para a outra central, que por sinal tem uma actuação mais para o lado do patronato desfavorecendo os trabalhadores. Posso afirmar que a grande parte das lutas efectuadas durante os 34 anos que estou nesta empresa foram feitas pala CGTP, ficando à margem das nossas lutas a outra central, que nunca aderiram a uma grave em prol de melhorias laborais e revindicações salariais. Resta a esperança da participação dos jovem que serão o futuro da força de trabalho da empresa tomarem as rédeas e reconquistar o espaço que foi deixado vago.

4ª Como avalias a actual governação do PS com apoios de outros partidos
da esquerda?

Até agora ao contrário de que muita gente dizia, a geringonça está a funcionar. Esta coligação inédita de esquerda veio dar um pouco de esperança e ânimo a quem já estava farto das políticas de direita. A reposição de salários e de direitos dos trabalhadores poderá ser um começo. Em minha opinião será fundamental mexer no código de trabalho que durante governos sucessivos o tem mal tratado, modificando o paulatinamente de tal ordem que subverteram o próprio espirito para o qual foi feito, beneficiando o elo mais fraco da relação laboral. Quando fizerem isso haverá mais esperança mais dignidade no trabalho. Espero que este governo dure o suficiente para que estas alterações sejam realizadas.


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