RESISTÊNCIA À DITADURA!

«O meu testemunho centra-se especialmente nas lutas que travámos na Penteadora de Unhais da Serra e que culminaram nas greves de 1969, com a GNR de metralhadoras em punho dentro e fora da fábrica. 
 Estávamos em pleno regime fascista e pensávamos nos riscos que corríamos. Mas sabíamos também que à luz da nossa inteligência e da fé que nos animava tínhamos a certeza que aquilo que nos queriam impor era injusto, era desumano e era fazer de nós burros de carga. Não tínhamos outro caminho senão lutar com a força da nossa razão e da nossa fé. Caminhávamos de madrugada e à noite, pela hora do calor ou debaixo de chuva, e por vezes com neve, da Erada, das Cortes e do Paúl uma hora a pé de casa para o trabalho e, depois outro tanto tempo, da Penteadora para casa, com 8 horas de trabalho em cima de nós. Veio um técnico americano. E para aumentar a produção os patrões queriam obrigar a trabalhar com 800 fusos em vez dos 400, sem olhar para a matéria prima e para a incapacidade das máquinas... Pressões de muitas formas: ameaças de despedimento, fechar algumas de nós num gabinete para nos obrigar aceitar os 800 fusos.
Não podíamos aceitar essa imposição. O processo de luta nas suas causas e consequências era constantemente reflectido e ponderado – e naturalmente dinamizado - pela JOC da Erada onde eu era coordenadora, com o apoio das Equipas Diocesanas da JOC e da LOC. Restava-nos o recurso à greve que sabíamos era proibida.
 E um dia, ao iniciar o turno, ninguém das nossas secções pega ao trabalho. É nessa altura que a GNR cerca a Penteadora, e também alguns guardas dentro da fábrica, de armas na mão num ambiente de pressão que é muito difícil descrever quase 45 anos depois... A greve da Penteadora teve repercussões em muitas partes do país e até além fronteiras. Demonstrou, entre outras coisas, que enquanto não existisse liberdade a GNR estaria sempre para defender os patrões e não os trabalhadores.
Na Penteadora aconteceram outros processos de luta que não eram contra a empresa, antes pelo contrário, visavam melhores condições para as operárias e os operários poderem produzir melhor e verem a sua dignidade respeitada. Foi o que aconteceu por volta do ano 1972 com a reivindicação para que se conseguisse o transporte em autocarro para todos os que vinham das aldeias à volta de Unhais da Serra. A história está ainda incompleta também no que representou a acção e a luta dos Movimentos Operários da Acção Católica antes (e também depois) do 25 de Abril de 1974.
Maria Alexandrina Brito Alves Coordenadora diocesana da LOC/ Movimento de Trabalhadores Cristãos Covilhã, Abril de 2014

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