Na perspectiva dos ocidentais, o ataque dos jihadistas ao orgão de comunicação Charlie Hebdo, ocorrido na semana passada, (dia 7 de Janeiro 2015) em Paris, tem um significado especial, pois coloca em questão não só a liberdade de imprensa mas a liberdade de expressão dos cidadãos, não só em França, como em toda a Europa e no mundo.
Estes acontecimentos trouxeram para o espaço público a discussão sobre a liberdade de opinião, (individual e colectiva) enquanto valor máximo no qual se encontra construída a cultura ocidental, nas sociedades contemporâneas. Logo, nunca é demais voltar a reflectir sobre o valor e a importância que a liberdade tem para todos nós cidadãos universais. E, de um modo particular para nós portugueses, porque a liberdade reconquistada é um facto recente, recuperada com o 25 de Abril de 1974.
Mas centremo-nos sobre o conceito “liberdade” inserido no mundo real das relações entre os seres, entre um passado e o futuro. A liberdade significa “o direito de agir segundo o seu livre arbítrio, de acordo com a própria vontade, desde que não prejudique outra pessoa, é a sensação de estar livre e não depender de ninguém” . Ainda nesta perspectiva, a Liberdade encontra-se também associada a um conjunto de ideais liberais, oriundos da revolução francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. E, se recuarmos um pouco mais na história, ainda para o filósofo inglês, “a liberdade é, como na Grécia de Socrates e de Aristóteles, a mais harmoniosa integração do indivíduo numa sociedade em que a escravatura abrangia a maior parte dos homens” .
Ao longo da evolução dos tempos, a liberdade tem sido concebida como um conceito utópico, uma vez que é questionável se realmente os indivíduos usufruem da liberdade que dizem ter, ou se alguma vez chegaremos a este nível de compreenção e de aplicabilidade por todos os cidadãos. Assim, para Stuart Mill a liberdade “aparece como o que, tão depressa se alcança, como se perde” . Pelo que a liberdade é um conceito não adquirido para todo o sempre, mas uma noção de luta continua através dos tempos, numa interacção intergeracional.
Nas sociedades contemporrâneas parece-nos que os cidadãos se encontram cada vez mais controlados pelos diferentes instrumentos associados às novas tecnologias da comunicação: telemóveis, multibancos, internet, redes sociais, como que prisionieros das técnicas que não nos deixam ver o que se passa no quotidiano. Neste sentido, torna-se imperioso parar, reflectir e agir conjuntamente, para que a pretexto da luta contra o terrorismo, os poderes instituídos, não cerciem os direitos, as liberdades e as grantias da nossa vida colectiva.
Nesta luta contínua do nosso viver em colectivo, tem de haver uma grande dose de tolerância, um profundo respeito pela dignidade da pessoa humana, independentemente da sua ligação religiosa, política, ideológica, ou da adesão aos valores culturais, sejam eles ocidentais ou orientais. Todos nós temos uma grande responsabilidade na tomada de consciência da cidadania activa, em prol de uma sociedade mais justa e fraterna.(Jose Vieira, sociólogo e militante da BASE)
Sem comentários:
Enviar um comentário