A LOC/MTC realizou no passado domingo, dia 5 de julho, em
Coimbra, um Encontro Nacional de Trabalhadores Cristãos no qual participaram
cerca de 500 pessoas vindas de Dioceses de todo o país. Publicamos na íntegra a Declaração final:
«A LOC/MTC - Liga Operária Católica/Movimento de
Trabalhadores Cristãos realizou, um Encontro Nacional de Trabalhadores
Cristãos, com o objetivo de estimular o compromisso na dinamização das
organizações da sociedade e na democratização das instituições públicas, pela
busca de uma Sociedade Justa e Sustentável, como nos tem desafiado o papa
Francisco.
Num contexto politico e socioeconómico marcado, por uma
sociedade que produz pobres e excluídos, e tenta dar-lhes alguma assistência
mas em dependência continuada, ao mesmo tempo que entrega os recursos naturais
e produtivos a privados e a multinacionais que desenvolvem corrupção, paraísos
fiscais, especulação financeira, deslocalização de empresas, Trabalhadores
Cristãos, reunidos em Coimbra, declaramos publicamente:
NÃO à Precariedade,
Desemprego, Pobreza
Três referências da sociedade atual que podem ser uma
mistura explosiva.
·
Os trabalhadores, com algumas exceções, estão
cada vez mais pobres e sem condições de vida digna, sujeitos a grande pressão
nos seus locais de trabalho pelas condições que lhe são impostas e sentem-se
desmotivados, deprimidos e empurrados a aceitar, muitas vezes, situações que
vão contra a sua dignidade.
·
Mais de um milhão de desempregados, em 5,7
milhões em idade ativa, considerando números do desemprego oficial, mais os que
já não constam do IEFP e os que são retirados destas listas por estarem em
cursos de formação. Com a agravante que 80% não tem subsídio de desemprego, 20%
há mais de 2 anos! Dados de dezembro de 2014.
·
Não ter uma “ocupação com sentido”, um
trabalho digno, é terreno propício para o aparecimento do álcool, prostituição,
roubo, violência, desprezo generalizado pela vida, suicídio.
·
Crianças que são retiradas dos infantários e
muitas vão para a escola com fome, havendo situações em que a refeição na
escola é a única que tomam em todo o dia, para além de todos os estragos
afetivos resultantes do estado de alma dos adultos, pais, especialmente.
·
O Aumento das doenças do foro psiquiátrico
provocadas pela insegurança permanente, pelos medos acumulados, pela
incapacidade de cumprir compromissos assumidos, pelo sentimento de inutilidade.
·
A falta de ética e de moral de quem nos governa,
as trapalhadas contínuas, a mentira, as decisões em cima do joelho, os casos
frequentes de corrupção de altos funcionários do Estado e de políticos,
desenvolvem o sentimento popular de descrédito na ação política, nos partidos
e, pior ainda, no sistema democrático.
·
A frieza, a falta de pudor e de respeito pela
dignidade das pessoas por parte dos governantes é uma das notas mais relevantes
da atual situação política e social, agravada pela aprovação de leis
desfavoráveis aos mais fracos e desprotegidos.
·
Quando se mata para sempre o emprego de
adultos na força da vida e se deixam os jovens, anos a fio, à espera de nada;
quando se corta nas pensões dos reformados e os idosos são reduzidos a sobrantes, a descartáveis,
não está na hora de as comunidades cristãs e seus pastores se levantarem e
insurgirem publicamente?
Declaramos NÃO, à
Precariedade, Desemprego, Pobreza, porque:
A dignidade humana tem razões
muito profundas
·
A razão mais profunda da dignidade humana
consiste na vocação do homem à união com Deus. Esta dignidade é que sustenta o
direito de toda a pessoa humana ao trabalho e a um trabalho digno, mas a
ausência de trabalho não significa ausência de dignidade. Quando uma pessoa se
vê privada do direito ao trabalho, de poder ganhar o seu pão é duro, essa
dignidade vê-se maltratada, ferida, amachucada,… mas mesmo nessa situação não
perde a sua dignidade de pessoa.
·
O ser humano é capaz de cooperar, renunciar a
alguns privilégios, estabelecer compromissos, ser solidário e não apenas ser
competitivo ou concorrente.
·
Os bens da terra não são propriedade absoluta de ninguém, nem sequer só desta
geração, como nos diz o papa Francisco na sua nova Encíclica.
·
A sociedade pode ser mais justa quando
proporcionar a todos os cidadãos oportunidades para se desenvolverem como
pessoas, tendo para isso acesso aos meios políticos, económicos, educativos,
culturais e espirituais, indispensáveis.
QUEREMOS Participar,
Formar, Acompanhar
Lançar
à terra sementes de uma nova humanidade
·
Há sinais encorajadores: Solidariedade dos
pais que ajudam os filhos mesmo com fracos recursos, solidariedade de muitas
instituições e de pessoas singulares. A economia social e solidária em
crescimento e o fenómeno “papa Francisco”, pelo que faz e pelo que diz, são
outros sinais de esperança.
·
As crises e a corrupção trazem muitos males,
principalmente, aos mais desfavorecidos. Mas as dificuldades mais sentidas, a
visibilidade das injustiças e a afronta ao enriquecimento escandaloso,
ajuda-nos a reagir e a atuar também, encontrando forças que não imaginávamos
ter.
·
Nas eleições que se aproximam iremos
valorizar medidas concretas que proponham prioridade às necessidades sociais em
lugar dos interesses dos grupos financeiros e económicos, e subordinem a
economia financeira às necessidades da economia real e do bem comum. Como disse
o Papa Bento XVI na sua encíclica - Caridade na Verdade – “O primeiro capital a salvaguardar e valorizar é o Homem, a pessoa na
sua integridade”.
·
A participação na transformação do mundo e na
ação pela justiça aparecem-nos claramente como uma dimensão constitutiva de ser
cristão. Como trabalhadores cristãos queremos estimular o nosso compromisso na
dinamização das organizações da sociedade e na democratização das instituições
públicas.
Não ficaremos indiferentes e comodamente instalados
perante as tribulações e injustiças cometidas contra os mais desfavorecidos da
sociedade. Vamos ser cidadãos mais ativos e
empenhados na denúncia das causas que provocam uma
sociedade tão desigual. Não nos vamos demitir dos nossos deveres cívicos e
políticos, e seremos agentes de transformação no implementar de uma nova
vivência social, baseada nos valores cristãos. E apelamos a que muitos outros
cidadãos, cristãos ou não, se comprometam também nesta transformação.
Acreditamos no homem e nas suas capacidades para mudar o
mundo.»
Coimbra
5 de Julho de 2015
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