RIO+20: que futuro queremos?

Apresentamos o ultimo capítulo do Relatório crítico sobre a cimeira da ONU Rio +20 elaborado por Giorgio Casula do Departamento do Desenvolvimento Sustentável da CGTP.Dada a extensão do dito relatório optamos por transcrever a parte final que levanta uma quantidade de questões sobre o futuro que queremos construir neste planeta e neste país:

«Quais perspectivas podemos delinear com base nos resultados da Cimeira de Rio + 20? Ao fim e ao cabo a questão de fundo é de saber que tipo de crescimento económico queremos. Aqui partilho a reflexão de Cesar Sanson, do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT (Brasil): “Por muito tempo, inclusive na esquerda, acreditou-se que o crescimento económico seria a varinha de condão para a resolução de todos os problemas. Particularmente da pobreza. A equação é conhecida. O crescimento económico produziria um círculo virtuoso: produção-emprego-consumo. Porém, o axioma de que apenas o crescimento económico torna possível a justiça social não é verdadeiro. Será que o grande projeto brasileiro é transformar todos cidadãos em consumidores? É preciso complexificar o debate. O debate sugerido, a partir do princípio da ‘ecologia da ação’ recomenda que devemos construir uma sociedade que seja sustentável com a natureza, às necessidades humanas presentes e futuras, com uma ética solidária, definidas desde os sectores populares, tendo como fim a construção de uma sociedade baseada em valores da solidariedade, liberdade, democracia, justiça e equidade” .

Evidentemente podemos colocar as mesmas questões para Portugal! De facto, que mudanças precisamos para organizar a economia de forma a produzir e consumir sem criar exclusões e desigualdades sociais e sem destruir a base da vida? Os nossos governantes demonstraram uma falta de determinação para iniciar uma grande reestruturação de um mundo em crise. Como ultrapassar esta crise de governação quando o problema é também dos nossos parlamentares que os sustentam, por mais limitado e contraditório que seja o espaço político que eles ainda detêm diante o poderes dos mercados? Como mudar este sistema quando a economia globalizada e a própria saúde das finanças públicas estatais dependem do enorme poder privado dos grandes grupos económico-financeiros, que submetem o mundo aos seus interesses de especulação e acumulação? O que temos hoje ao nível mundial é um governo mundial de corporações mais do que de Estados !

Mas também a sociedade civil e a “cidadania planetária”, presente também no Rio de Janeiro, não teve o impacto esperado! Embora os representantes da sociedade civil fizeram muito ruído e alguns puderam participar democraticamente na tentativa de “influir na produção do documento final, faltou a força para criar uma real densidade politica democrática capaz de inverter o jogo ou, ao menos, ameaçar” . Segundo Cândido Grzybowski, Director da Ibase (Brasil), chegamos a pouco em termos de caminhos para novos paradigmas, o mote que uniu os nossos representantes no Rio e, espero eu, continuará a nos unir para defender novas ideias, sonhos diversos, pluralismo de visões, análise e modos de agir.
“A incapacidade dos governos diante de suas contradições e, sobretudo, do poder das corporações económico-financeiras, mais uma vez patente nesta Conferência da ONU, só pode ser superada pela nossa determinação de cidadãs e cidadãos responsáveis, que crêem e agem para que outros mundos sejam possíveis. Cabe-nos a tarefa de empurrar os governos para mudanças, não nos iludamos” .

Importa continuar a unir os esforços entre associações, ONG, parceiros sociais e instituições públicas para que os políticos e os órgãos estatais admitam e implementam os princípios de participação e de contribuição da sociedade civil.
Existem tribos, em várias partes do globo, que não esperaram o RIO+20 nem RIO 92 para saber que é preciso viver em harmonia com a natureza e equilibrar as necessidades económicas e ambientais. Seguramente que poderíamos aprender mais com elas em vez de destruí-las!
Embora parece o David contra Golias não podemos baixar os braços. Agora, mais do que nunca, importa agir, não só para nós, mas para as gerações futuras, no mundo inteiro.»





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