NA NOVA ENCÍCLICA DA IGREJA CATÓLICA O TRABALHO NÃO É CENTRAL!


A recente encíclica CARITAS IN VERITATE do PAPA Bento XVI merece, embora como primeiras impressões, alguns comentários.O trabalho e o desemprego merecem magras referencias nesta encíclica.O ambiente é especialmente tratado.A encíclica "Populorum Progressio" de Paulo VI está em "pano de fundo" das reflexões do Papa.Hoje o mundo é diferente....Será que se mantém a esperança num desenvolvimento justo e humano para todos,ou é mais um documento para católico ver?

1. As encíclicas sociais nunca tiveram grande eco no nosso País.As razões são diversas e históricas.Mesmo na ditadura, que se servia da Igreja Católica e esta recebia privilégios particulares, a "doutrina social" era muito pouco divulgada.
Em democracia, sem as limitações da censura, nem por isso aumentou o grau de interesse pelas encíclicas, ressalvando naturalmente alguns círculos da própria Igreja.Daí que quase passou despercebida esta encíclica de Bento XVI.

2. Sob ponto de vista formal este documento é algo disperso nas temáticas e sem equilibrio no tratamento dos temas.É um documento de difícil trabalho, onde se abordam as mesmas temáticas diversas vezes.Algumas questões são abordadas com profundidade tais como a relação ambiente e desenvolvimento. Outros, como o trabalho e o desemprego, quase são ignorados.Não é, portanto, uma encíclica mobilizadora.Pelo contrário, é mais intelectualizada do que os documentos de João XXIII , Paulo VI e João Paulo II.
Algumas temáticas, porém, como a cooperação e o apoio aos povos mais pobres, a necessidade de salvar a terra sob ponto de vista ecológico e a visão da empresa do futuro bem como a necessidade de uma autoridade mundial que coordene a globalização de forma justa, refelectem avanços no pensamento da Igreja Católia que assume teses de muitas Ong,s e até das organizações sindicais mundiais.

3.O trabalho e o desemprego são os parentes pobres desta Encíclica.Não há uma reflexão aprofundada sobre o papel central do trabalho na vida humana.O trabalho ainda é uma questão chave do desenvolvimento dos povos e de cada povo.A precariedade não é abordada com a profundidade necessária.O que se diz é pouco, embora seja importante.Já não se fala do sindicalismo que quase é ignorado e apenas se recomenda que este não deve ignorar os trabalhadores dos povos mais pobres.
Ora, o movimento sindical mundial, com todos os defeitos que lhe possamos apontar, e são muitos, é o mais importante movimento social,civil da globalização.O movimento sindical é um dos instrumentos mais importantes para combater a pobreza e realizar um desenvolvimento equilibrado!

5.O mercado é visto por Bento XVI de forma ingénua e como um instrumento saudável que alguns, na sua ganancia acabam por poluir.Ora, hoje o mercado e o seu funcionamento na globalização é muito mais complexo e permite os mecanismos de enriquecimento e empobrecimento conhecidos, bem como as desigualdades sociais e o domínio de poderosos grupos nacionais e mundiais que regem efectivamente o mercado e governam a globalização.Não estamos a falar do mercado da primeira fase da burguesia comercial.

6. É também de admirar as poucas referencias e o tratamento suave com que é tratada a presente crise do capitalismo financeiro.Sim existem referencias aos especuladores, à necessidade de regular e de dar uma ética aos negócios.Porém , é tudo muito suave, pouco veemente na análise deste grande escândalo mundial que remeteu de um dia para o outro milhões de trabalhadores para o desemprego e afundou toda a economia.

Finalmente o documento merece óbviamente um estudo mas aprofundado para se retirarem outros aspectos também muito importantes e que exigem outros espaços que não um blogue.

1 comentário:

Unknown disse...

Igreja Catolica desde 1891 quando o Papa Leão XIII, escreveu a carta enciclca Rerum Novarum e entre outras ao longo da historia que foram escritas nessa area social, sempre teve como, objetivo alcançar os pobres excluidos, descamisados, operarios de fabricas ou seja trabalhadores em geral, seria uma grande falsidade dizer que a igreja de hoje, nao tem o pensamento voltado para os trabalhadores.