EM CASO DE PERIGO PODES ABANDONAR O LOCAL DE TRABALHO?

Podes e deves! Entre as obrigações dos trabalhadores no domínio da promoção da segurança e saúde no trabalho consta uma que diz que em caso de perigo grave e iminente o trabalhador deve adotar as medidas e instruções previamente estabelecidas (se existirem!) para tal situação, sem prejuízo do dever de contactar, logo que possível, com o superior hierárquico ou com os trabalhadores que desempenham funções específicas nos domínios da segurança e saúde no local de trabalho. Isto é o que diz o artigo 17º do Regime Jurídico da Promoção da Segurança e Saúde no Trabalho (1).
De seguida, e no mesmo artigo diz textualmente o seguinte: «o trabalhador não pode ser prejudicado em virtude de se ter afastado do seu posto de trabalho ou de uma área perigosa em caso de perigo grave e iminente nem por ter adotado medidas para a sua própria segurança ou para a segurança de outrem».
As organizações de trabalhadores podem também convocar a Inspeção do trabalho (ACT) no caso de se verificarem situações de perigo nos locais de trabalho! No caso de serviços públicos devem informar de imediato as inspeções dos respetivos ministérios.

Seguindo, aliás, diretivas europeias a legislação nacional é clara quanto á responsabilização do patrão quanto ao assegurar ao trabalhador condições de segurança e saúde em todos os aspetos do seu trabalho. INFORMAÇÃO LABORAL.

(1)Lei nº 3/2014 de 28 de janeiro.Procede à segunda alteração à Lei n.º 102/2009, de 10 de setembro, que aprova o regime jurídico da promoção da segurança e saúde no trabalho, e à segunda alteração ao Decreto -Lei n.º 116/97, de 12 de maio, que transpõe para a ordem jurídica interna a Diretiva n.º 93/103/CE, do Conselho, de 23 de novembro, relativa às prescrições mínimas de segurança e de saúde no trabalho a bordo dos navios de pesca.

TRABALHO COMO REALIZAÇÃO HUMANA: seminário internacional!

A Liga Operária Católica/Movimento dos Trabalhadores Cristãos organiza de 4 a 7 de junho em Alfragide, Lisboa, um seminário internacional sobre o tema «O trabalho como realização humana e desenvolvimento social e sustentável».

A iniciativa, que tem o apoio do EZA e da Comissão Europeia, destina-se a aprofundar a situação dos trabalhadores e o contributo dos mesmos para um desenvolvimento social justo e sustentável e abordará diversos temas com destaque para a contratação coletiva e o diálogo social. A BASE-FUT participa como Organização convidada!

SITUAÇÃO ATUAL E O SINDICALISMO!

Perante a grave crise económica e social que preocupa e afeta o futuro dos trabalhadores e o atual Sindicalismo, podemos estar perante uma transição social e económica ainda de contornos não conhecidos mas desafiantes que deixam expectativas de que algo de novo se iniciou.
Mais uma vez, estamos perante uma grave ofensiva ideológica e política que trás consigo novos comportamentos e ensaia mudanças, sobretudo apoiada numa confusão da linguagem onde verdadeiramente nada muda mas que altera as relações sociais em desfavor do trabalho/emprego.

Já conseguiram impor sub - repticiamente à esquerda e à direita, uma retórica que está a levar à implementação cognitiva do mercado do trabalho e não como deve ser o do direito de todos ao trabalho. Por esse motivo querem que se sigam novas regras do direito no sentido de outras baseadas na lei da oferta e da procura. Com este novo procedimento serão os capitalistas, os únicos, a beneficiar, pois entre outras consequências fazem-se já sentir na redução dos salários, na retirada de muitos direitos já consagrados contratualizados, acordos laborais e nas leis constitucionais que ficam por cumprir.

Desemprego estrutural e redução de direitos

O desemprego é estrutural e é usado para manter um clima de medo que empurra para baixos salários e para trabalho extra com horários muito longos, e, em muitos casos, com pagamento reduzido ou sem qualquer pagamento.
Este fator ligado ao medo e à perda de direitos estão a perturbar a socialização e a trazer a instabilidade pela exclusão social que gera, é uma causa e uma justificação pela pobreza e pelo crescente desemprego. As consequências estão também nas políticas de austeridade que têm contribuído para o aumento das injustiças, sendo hoje Portugal a presidir à liderança Europeia em desigualdades e com um forte crescimento nas assimetrias sem solução à vista nem com um eficiente combate á pobreza.
Entre essas nefastas causas destacam-se: As privatizações, as desregulamentações e alterações efetuadas nas principais leis laborais sendo sempre no sentido de adaptá-las ao modelo neoliberal. A redução dos direitos sociais e laborais, a que chamam de adquiridos, por isso podendo ser retirados ou diminuídos.
Deslocalizações de empresas
 As deslocalizações de empresas e de capitais para promoverem e aproveitarem dumpings sociais e fiscais, e dizerem que vão implementar novas e perfeitas condições no país, não passam de uma perfeita falácia porque, na prática, pouco ou nada se vê. Usa-se muitas vezes o argumento da competitividade e produtividade mas não passa por ser uma forte razão para reduzir os empregos em muitas das empresas que, ao deslocalizarem-se, fecharam, e, a partir daí, são importados os produtos antes produzidos. 
As consequências fizeram-se logo sentir e foi por imposição sem negociação com os parceiros sindicais, a criação de uma lei arbitrária que veio reduzir as devidas indemnizações no sentido de facilitar e aumentar os despedimentos.
Os sindicatos procuram defender e proteger todos os trabalhadores quer no valor dos seus salários, mas também em toda a dignidade dos seus direitos perante este grave quadro de crise.
 Apesar de haver uma constante luta, que para muitos é desgastante, geram-se debilidades naturais face ao ataque de que são vítimas, levando alguns a afirmarem que os sindicatos estão ultrapassados e que são desnecessários. No entanto, querem que os mesmos ajudem á implementação de reformas antissociais.
Este processo em marcha é a causa principal da redução da coesão social e da crise do sindicalismo e exige respostas concretas, como seja, o de reinventar a sua ação na construção da democracia participativa, económica e social, com justiça e com direitos, sobretudo em garantir os que já estão consagrados.

Sindicalismo tem que responder a esta ofensiva

Perante isto, um sindicalismo atuante tem de responder ao grande desafio. Vai haver um período de transição para algo de novo. Está na hora, é preciso fazer mais e lutar por uma sociedade com outro futuro mais justa e participada.
Aos sindicatos cabe fomentar a ação organizada que passa pela unidade de todos, pela participação e aprofundamento na procura do consensual e da ação concreta entre si, alargando sempre que possível a causa que não dispensa o envolvimento da chamada sociedade civil, criando sinergias e potenciando as suas ações convergentes e comuns.
A relação dos sindicatos com os partidos políticos e outras organizações da sociedade, sendo em períodos concretos historicamente convergentes, precisa de ser dinamizada e repensada, sem deixar de ser reforçada na sua autonomia e independência, mas sempre no sentido de convergir quando a natureza transversal da luta social assim o exigir. 
É preciso que os trabalhadores do setor público e privado, integrando os precários e não precários, mantenham a exigência de uma viragem nas políticas nacionais e europeias, por melhores salários mais justos e sem cortes, e que todos os efeitos sejam respeitados em todos os direitos já adquiridos, salvo aqueles que sejam modificados em consequência da renegociação coletiva, discutida e aprovada pelos próprios trabalhadores em plenários ou assembleias gerais dentro dos sindicatos e nos locais de trabalho.

João Lourenço, sindicalista





BASE-FUT DEBATE SITUAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA!

A Comissão Executiva Nacional da BASE-FUT reúne no próximo sábado, dia 30 de maio, na sede nacional, em Lisboa para debater situação social e política, bem como a situação da Organização, tendo em conta a preparação do próximo Congresso a realizar em 2016.
Como preocupações centrais para o debate está um novo ataque à segurança social, que a maioria de direita está a preparar, e, com apoio nos media, aos sindicatos, explorando as greves nos transportes públicos contra a privatização dos mesmos!


NOVA SECRETÁRIA GERAL DO EZA!

No início deste mês de maio tomou posse a nova Secretária Geral do EZA (Centro Europeu para os Assuntos dos Trabalhadores) Sigrid Schraml, uma alemã com larga experiência nas questões europeias e  interculturais, nomeadamente nas relações cristãs muçulmanas.
Escolhida pelo EZA na reunião do seu conselho de administração de 29 de novembro de 2014 ,em Budapeste, Sigrid é uma mulher ainda muito jovem e com vontade de dar à rede europeia EZA de formação de trabalhadores muito do seu saber, contatos e experiência das instituições comunitárias.

O Centro de Formação e Tempos Livres (CFTL) é uma das organizações portuguesas filiadas no EZA estando presentemente representado no seu Conselho de Administração.

LIBERDADE DE INFORMAÇÃO? ONDE?

«A pergunta é antiga, mas parece ganhar cada vez mais pertinência: "Quais os maiores constrangimentos à liberdade de imprensa que os jornalistas portugueses enfrentam hoje?". A questão foi endereçada por Felisbela Lopes, professora da Universidade do Minho, a cem jornalistas de vários meios de Comunicação Social, e dos testemunhos resultou um livro-resposta: "Jornalista, profissão ameaçada".  
 
A obra chega amanhã ao mercado e pretende ser um contributo para relançar uma discussão de que todos - jornalistas, políticos, sindicatos, sociedade civil - parecem ter-se demitido, afirma ao JN a docente cuja área de investigação é a informação televisiva e o jornalismo de saúde. "Quarenta e um anos depois do 25 de Abril de 1974, os jornalistas não se sentem livres. Isto não é grave?", questiona. "Se o livro servir para colocar esta reflexão na ordem do dia, já cumpriu a sua missão."  
 
A reflexão, a ser encetada, seria sobre o denominador comum dos relatos assinados pelos profissionais. "Todos apontam para constrangimentos de ordem económica a partir da concentração dos grupos de media. Todos são desafiados a fazer mais com menos e em menos tempo", sintetiza.  
 
Por outro lado, a profissionalização das fontes, "cada vez mais organizadas, transformam as pressões em subtilezas" com as quais os profissionais revelam também ter dificuldade em lidar. Um número mais reduzido aponta também a tecnologia como fator de pressão. "Sentem o escrutínio das redes sociais, mesmo sabendo que poderão não ser representativos."  
 
A solução para a liberdade, avança a autora do ensaio que se debruça sobre quatro áreas - justiça, política, futebol, religião - tem de "ser pensada a partir no topo, ou seja, das administrações, e não dos repórteres". "O jornalismo livre e independente, que aliás os leitores sabem identificar, não constitui um perigo para a democracia. Pelo contrário. É um antídoto dos abusos de poder".» ( JN de 26 de maio de 2015)
 




HOMENAGEM A ÓSCAR ROMERO!

1 - Segunda-feira, 25 de Maio, no Convento de São Domingos de Benfica, de Lisboa (junto à estação de metro do Alto dos Moinhos) decorre uma sessão sobre a figura de Óscar Romero, o arcebispo assassinado há 35 anos em El Salvador por esquadrões militares, e que ontem foi beatificado, após muitos bloqueios, mesmo no interior do Vaticano  
A sessão decorre a partir das 21h00 e conta com a intervenção do dominicano fr. Rui Grácio, que esteve longos anos na América Latina, bem como da irmã Mariana Vilar (Escravas do Sagrado Coração de Jesus), que também trabalhou naquela zona do mundo durante algum tempo; eu farei a apresentação de uma biografia de Oscar Romero, que na última semana foi publicada pela editora jesuíta AO. 

2 - Sexta, dia 29, de novo no Convento dos Dominicanos, será apresentado um novo volume da antologia de crónicas de frei Bento Domingues no "Público", que a irmã Julieta Mendes Dias e eu temos vindo a organizar, numa edição do Círculo de Leitores/Temas e Debates; a apresentação será feita por Daniel Oliveira e decorre a partir das 18h30.( António Marujo, Jornalista) 


TELETRABALHO? Como é?

Hoje o conceito de trabalho eletrónico abrange não apenas o teletrabalho, uma novidade nos anos 90 do século XX, mas também outras atividades que envolvam a utilização de ferramentas de trabalho eletrónicas. Estão assim abrangidos todos os trabalhadores que, em determinado momento, utilizam as tecnologias de informação e comunicação para desenvolver a sua atividade.
Por diversas razões em Portugal o teletrabalho não tem assumido a mesma expansão que em outros países, nomeadamente em países nórdicos como a Dinamarca ou a Finlândia.
 As empresas portuguesas não têm alinhado muito com este tipo de trabalho. Talvez as razões de caráter cultural do patronato, conservador e tradicionalista, estejam na base deste não alinhamento. De forma pouco rigorosa podemos adiantar que talvez existam em Portugal entre 100 a 300 mil teletrabalhadores, embora uma parte significativa destes seja independente e não subordinada ou um misto das duas.
Quando se fala em teletrabalho existe, por vezes, uma ideia sedutora de trabalhar á solta ou em casa, sem os constrangimentos dos transportes e horários. Mas nem tudo são rosas e é preciso estar muito atento para que, através de uma proposta de teletrabalho, não se caia numa armadilha que nos conduza á precariedade, ao isolamento, sem relação com os colegas, à perda de eventuais regalias sociais, a conflitos familiares e à perda da proteção de um contrato coletivo de trabalho.

O Código do Trabalho e o teletrabalho

Embora não exista em Portugal aquilo a que se poderia chamar um estatuto do teletrabalhador, o Código do Trabalho atual os artigos 165º a 171º define de algum modo o quadro de proteção do teletrabalhador subordinado, ou seja aquele que trabalha para um patrão, nomeadamente a forma e conteúdo do contrato de trabalho, os instrumentos de trabalho, a privacidade, as condições de segurança e saúde no trabalho e horários.
Neste quadro o teletrabalhador tem os mesmos direitos e deveres dos outros trabalhadores, nomeadamente no que respeita á formação e carreira profissional, limites do período normal de trabalho e seguro de acidentes de trabalho.
Por outro lado, o patrão deve evitar o isolamento do trabalhador através de contatos regulares com a empresa e com os colegas, fornecer os instrumentos de trabalho e pagar os custos inerentes á produção.
Segundo a lei o teletrabalhador em regime de teletrabalho integra o número de trabalhadores da empresa para os efeitos de representação coletiva, podendo eleger e ser eleito para as estruturas sindicais, de comissão de trabalhadores ou outras. Pode e deve, inclusive, utilizar as tecnologias colocadas á suas disposição para contactar as organizações de trabalhadores. Como é óbvio deve estar sindicalizado.
Os trabalhadores anteriormente vinculados ao patrão usufruem de um regime especial de teletrabalho. Neste caso a duração inicial do contrato de teletrabalho não pode ultrapassar os 3 anos e pode ser denunciado nos primeiros 30 dias por qualquer das partes. Cessando o contrato de teletrabalho o trabalhador volta ao seu lugar na empresa.
Antes de aceitar um contrato destes convém falar com o sindicato e ver bem as condições propostas. INFORMAÇÃO LABORAL


BASE -FUT PROMOVE CONVERSAS COM LIVROS!

Pois, aqui estamos de novo, a convidar-vos, para mais uma “conversas com livros”. Alguns amigos aceitaram o nosso desafio e no passado dia 9 de Abril realizámos o primeiro Encontro do grupo “Conversas com Livros”. Foi muito animado, participado, com muito interesse dos participantes presentes.
Assim, decidiram todos os que participaram, na sessão, continuarem a “aventura” das leituras e das conversas a partir dos livros. O que irá acontecer, no próximo dia 28 de Maio, quinta-feira, às 15h30, vamos voltar a encontrarmo-nos na Sede da BASE-F.U.T. O livro desta vez escolhido foi “OS PESCADORES”, de Raul Brandão.
O encontro é aberto, não é só para os participantes do 1º Encontro. Por isso, divulga, trás amigos, participa, vem “descobrir” os livros, conversando sobre este livro! Estás livre? Então aparece! És bem-vindo e vais gostar.
Continuamos a aconselhar, a quem não tiver o livro, a utilizar uma Biblioteca Pública, aquela que ficar mais acessível.
Para que o convívio seja “mais quente” teremos chá e bolachinhas.
Aparece! Conviver…ler, faz bem à mente e dá Alegria à VIDA!
Um abraço
Amália e Manuela
“CONVERSAS COM LIVROS”

PRECÁRIOS GANHAM MENOS!

REMUNERAÇÕES Em Portugal, os trabalhadores a prazo ou sem um contrato formal ganham cerca de 60% do que aufere um trabalhador permanente. Já os que trabalham por conta própria conseguem ganhar cerca de 75% dos "permanentes". Estes dados constam do relatório de 2015 sobre "Emprego no Mundo e perspetivas sociais", da Organização Internacional do Trabalho (OIT).  
 
O estudo mostra que, no conjunto da UE, a maioria das pessoas (três quartos) tem um contrato permanente  e cerca de dois terços trabalham em "full-time". No entanto, a nível global, os chamados empregos clássicos (permanentes, remunerados e a tempo completo) representam já menos de 40% e estão a perder terreno para as formas de trabalho informal, part-time e emprego por conta própria. E a tendência é para que esta situação continue a acentuar-se, levando a OIT a alertar que "o modelo de emprego clássico é cada vez menos representativo".  
 
Esta é uma das consequências da prolongada crise que fez com que a nível mundial se contassem 201 milhões de desempregados no final de 2014 - um número que supera em 30 milhões o universo de pessoas sem trabalho em 2008. A OIT dá ainda conta das dificuldades que se têm observado a nível global para absorver os 40 milhões de pessoas que entram no mercado todos os anos. De acordo com o estudo, a UE registou uma subida do peso do emprego em part-time (que ganhou 2,1 milhões de trabalhadores entre 2009 e 2013), ao mesmo tempo que os empregos em "full-time" caíram 3,3 milhões. Tudo isto leva também a OIT a considerar a necessidade de os esquemas de proteção social cobrirem outras situações para além dos contratos sem termo. l.t.  
 

CALL CENTERS. O princípio nunca chega ao fim!


POR JOÃO VILELA

Quando estudava na faculdade, devo reconhecer, tive professores extremamente honestos. Nunca nos esconderam o futuro que nos esperava, as agruras dele, e menos ainda o modo como, diligentemente, nos estavam a preparar para o enfrentar. Recordo com especial carinho certa aula em que, propondo o docente uma alteração absurda de horário, enfrentou a nossa recusa unânime com uma frase onde se misturavam praga rogada com uma certa futurologia: «os senhores, aqui, tudo exigem, mas quando acabarem o curso e estiverem na caixa do Continente, tudo aceitam!».

Não nos ocorreu – e esta autocrítica devemos fazê-la – perguntar que opinião tinha ele sobre estar a formar historiadores para que estes, em vez de investigarem ou leccionarem História, acabassem a registar compras na caixa do Continente, ou do Jumbo, ou doutro hipermercado qualquer. Duvido que a resposta fosse particularmente progressista, agora que penso nisso. Historiador que era, acostumado a certos tiques de adivinho comuns à seita, o homem dessa vez acertou: são inúmeros os meus colegas de então em caixas de supermercado. Em restaurantes de fast-food. A vender porta-a-porta, ou, como eu, a trabalhar em call-centers.

A nossa sorte é parecida à dos nossos pais

Fundamentalmente, a sorte que nos tocou foi muito parecida com a dos nossos pais, a dos nossos avós, a dos nossos bisavós, a de centenas de gerações antes da nossa num país onde as classes dirigentes sempre aceitaram de bom grado um papel de segunda linha no concerto das economias. Há certamente qualquer coisa de respeitável na veneração que os capitalistas portugueses demonstram pelas tradições. E a tradição multissecular de uma economia de trabalho barato, indiferenciado, intensivo, gerido à bruta, para produzir o rebotalho que mais nenhum país quer fazer, conservam-na eles com os cuidados e os rigores de quem conserva uma identidade nacional.

Podem mudar as formas, e os nossos avós terem sido camponeses, os pais operários de calçado no Ave, ou empregados de balcão a vender agulhas, e sermos nós, hoje, telemarketeers, first line agents, business-to-client managers, ou door-to-door salesmen (coisas que despojadas do inglês para o estilo, na realidade querem dizer «vendedor», «vendedor ao telefone», ou pouco mais): o conteúdo precioso de muitas horas, más instalações, material de trabalho antiquado e em mau estado, supervisores (que dantes eram capatazes, contramestres, feitores, mas faziam a mesma coisa) mal encarados e brutos, algures entre o cão-de-fila e o sonho de subir na vida a pisar os outros, isso nunca desaparece. É o que é distintivo da burguesia que temos. É assim que ela mostra ao estrangeiro a massa de que é feita, e o destino que reserva ao povo.

Ninguém tem contrato de trabalho!

Já trabalhei em diversos call-centers. Uns sem luz natural 8 horas por dia. Outros sem esponjas para os headsets, deixando orelhas gretadas e ouvidos a zunir. Outros com pausas para ir ao WC contadas ao segundo. Outros ainda em que nos davam um pedaço rasgado de lista telefónica, um telefone, duas folhas A4 com «o produto» e se zangavam quando não vendíamos. Todos tinham, contudo, um conjunto de coisas em comum: ninguém tem contratos de trabalho (e a referência, ténue, à legislação laboral, embate no exaspero de quem manda e diz que «isso da lei só empata, antes mau trabalho que desemprego»); ninguém ganha mais do que um salário de fome; ninguém suporta a cadência infernal das chamadas, a pressão para as vendas, as desandas porque não se cumpriram objectivos, as desculpas esfarrapadas quando os clientes já foram assediados dezenas de vezes «mas aquele teu colega dá-lhes a volta». E sobretudo, um ponto é comum a todos: a repetição exaustiva, incessante, maquinal, ainda mais repetitiva que o script que se lê e do que não que se leva do cliente, de que se sofrermos no princípio, um dia, mais tarde, lá para a frente, numa altura que ninguém sabe quando é mas há-de vir, seremos recompensados com leite, mel, e quatro dígitos de salário.

A exploração

A certeza de que o princípio, quando se tem de sofrer, é um princípio que nunca chega ao fim, rapidamente se torna presente na consciência de quem trabalha no ramo. Não com esta gente que espera que tudo aceitemos na caixa do Continente (ou no posto da linha), e para quem é indiferente se produzimos barcos para a Polónia, sapatos para a Suécia, ou inquéritos telefónicos para a Grã-Bretanha, assegurado que está o permanente cash flow dos seus milhões em lucros e dividendos.

O único fim para este princípio que nunca mais acaba há-de sair não dos objectivos, nem dos prémios, nem do currículo, nem do cumprimento escrupuloso de todas as mirabolantes formas de forçar mais trabalho e produzir mais lucro a troco de migalhas que os gestores possam inventar. O fim deste princípio é o fim da exploração, imposta pelas mãos dos próprios operadores. Somos nós que atendemos. Somos nós que vendemos. Somos nós que ligamos. Somos nós que mandamos. Nenhum call-center existe sem nós – que nenhum call-center exista, connosco, se formos explorados e maltratados. Dizer não, decididamente, todos juntos, o é a única forma de termos o leite e mel que eles prometem e nunca nos dão.

PRECARIEDADE E AÇÃO SINDICAL-

«...Perante os atuais problemas com que se vem debatendo o mundo do trabalho e o sindicalismo, é importante refletir sobre as formas (velhas e novas) de denuncia e de ação coletiva, e tentar compreender qual poderá ser o papel dos novos meios de comunicação informáticos nesse processo. Muito embora as correntes e sensibilidades internas ao sindicalismo sempre tenham sido múltiplas, convém não esquecer que foi sobretudo o “sindicalismo de movimento” que mais contribuiu para as grandes transformações ocorridas nas sociedades industriais modernas (Dibben, 2004)...VER

FUTURO DO SINDICALISMO EM DEBATE!

 
No próximo dia 23 de maio, em Lisboa, decorre a última sessão da ação de formação sindical 2015 promovida pela BASE-FUT. Na parte da manhã terá lugar a avaliação da ação realizada pelos formandos e formadores e, para a tarde, após almoço em conjunto, pelas 14,30 horas, está programado um debate, animado pelo sociólogo e investigador da Universidade de Coimbra, Elísio Estanque.

O debate tem como tema o futuro do sindicalismo. Uma discussão oportuna quando na sociedade portuguesa, em particular em alguma comunicação social, existe uma dinâmica de crítica pouco fundamentada aos sindicatos! O evento é aberto a quem queira participar!

DEBATE SOBRE ECONOMIA SOLIDÁRIA!

A Fundação João XXIII promove no próximo dia 30 de maio um Encontro na Lourinhã, Casa do Oeste, sobre a Economia solidária e o desenvolvimento local.Inscreve-te e participa!

Programa:
Entrada - Bunker Roi - Duma aldeia da Tilónia (Índia) para Ribamar da Lourinhã
  • Desenvolvimento num mundo global …Trocas, riscos, desafios
- José Fialho (Grupo de Economia Social Solidária)
  • Fundação Solidários - 30 anos a inovar no tecido social
- Luís Gonzaga e Maria Hermínia (F. Solidários - Casa da Fonte Solidária)
  • “Cria©tividade - Tira o nó da cabeça, põe o nó na gravata”
- Pedro Pinto (Investigactor)
  • Aldeias em rede … solidária - Landal, Chãos de Alcobertas, Miro, Brissos…
       - José M. Paz, Manuel Nogueira (Dirigentes Associativos)
  • “Si puede, si puede” - Numa escola da Bronx, N. Iorque - Steven Ritz
  • Empreendorismo na escola… é possível -  Eduardo C. Costa (Abrantes)
  • O desafio da Economia Social Solidária passou por Chãos em Novembro…
- Júlio Ricardo…

         
INSCRIÇÃO: 7,50 Euros. Casa do Oeste casadooeste@sapo.pt 261 422 790 915 779 032

TRABALHADORES DA SAÚDE VÃO PARA A GREVE! A SITUAÇÃO É INTOLERÁVEL!

Pessoal da saúde vai para a greve no próximo dia 15 de maio!A maioria destes trabalhadores auferem salários muito baixos, estando sujeitos a uma escandalosa sobrecarga horária, fruto da total desregulação dos seus horários, sendo obrigados a prestar serviços que são essenciais, em condições que põem em causa a sua dignidade e em risco a qualidade dos cuidados prestados aos utentes. 
Exemplo gritante da desvalorização salarial é o pagamento do trabalho noturno, por turnos e aos fins -de -semana que, juntamente com o corte no valor do trabalho extraordinário, sofreu uma diminuição entre 16,7% e 25%, não esquecendo todos os cortes salariais verificados na Administração Pública. 
Só em 2013 a Saúde perdeu 6953 trabalhadores, 67,25% dos quais por mobilidade e outras situações. - Existem inúmeros trabalhadores no Serviço Nacional de Saúde sem uma carreira profissional que os dignifique, lhes reconheça o papel basilar e a complexidade de competências que as suas profissões exigem. Ver principais reivindicações!

PENSAR A EDUCAÇÃO EM PORTUGAL É URGENTE!

Os membros do grupo «Economia e Sociedade» Belmiro Cabrito, Graça Leão 
Fernandes, Manuela Silva, Margarida Chagas Lopes, Maria Eduarda Ribeiro, Maria do Rosário Carneiro elaboraram um documento intitulado «Pensar a Educação. Portugal 2015» que merece a leitura de qualquer cidadão, mas em particular de todos aqueles que estão diretamente envolvidos em termos políticos e pedagógicos no processo educativo em Portugal! Tanto ao nível do diagnóstico como das propostas o documento sintetiza e sistematiza um conjunto de ideias de muito valor e porque valerá a pena lutar.
Os próprios autores referem na introdução que «texto que agora oferecemos ao conhecimento público pretende ser uma proposta que sirva de guia aos decisores políticos, professores e educadores, alunos e pais e à população em geral, para a construção de um projeto educativo de qualidade, à altura dos desafios do mundo contemporâneo, que assegure igualdade de oportunidades para todos e que sirva de base à definição e implementação das políticas públicas bem como à sua avaliação enquanto instrumento de aperfeiçoamento permanente do sistema educativo. VER

O ASSÉDIO MORAL E O PAPEL DOS SINDICATOS!

Com o apoio do EZA e da Comissão Europeia o assédio moral no trabalho e o papel dos sindicatos foi o tema de um seminário que teve lugar em Vilnius, Lituânia, de 7 a 9 deste mês de maio e promovido pela LDF (Federação de Trabalhadores da Lituânia), com a participação de vários países da União Europeia.
Este evento foi um dos cinco seminários sobre temáticas de segurança e saúde no trabalho que irão ser acompanhados por uma equipa de Portugal, o A. Brandão Guedes e o Ricardo Boto, do CFTL/BASE, para posteriormente fazerem relatórios e verificarem quais as principais questões, problemas e boas práticas que se colocam em diferentes países da Europa nestas matérias. O projeto é da iniciativa do EZA (Centro Europeu para os Assuntos dos Trabalhadores) no âmbito da aposta na qualidade do trabalho no espaço europeu.

UMA EUROPA DA DESIGUALDADE?

Uma das causas da crise profunda que enfrenta atualmente a União Europeia  que fez disparar o desemprego e tem determinado um crescimento anémico, e que está a provocar o atraso da U.E. no contexto global, são os fortes e crescentes desequilíbrios que se verificam entre os diferentes países da União Europeia. Em vez de harmonização no progresso estamos a ter uma poderosa dinâmica de retrocesso! Ver documento.

TRABALHADORES CRISTÃOS QUEREM OUTRA POLÍTICA PARA OS REFUGIADOS!

Bruxelas / Friburgo. O Movimento Europeu de Trabalhadores Cristãos (MTCE) critica as políticas letais para refugiados que se vêm aplicando na União Europeia. A prática de um isolamento radical que não
permite a entrada dos refugiados, promove o crescimento de bandos criminosos que transportam imigrantes, e contribuem para provocar a morte de milhares de mulheres, crianças e jovens que vêm em busca de ajuda.
"As tragédias de morte no Mediterrânio também põem a descoberto as erradas políticas dos governos europeus", diz Otto Meier, presidente do MTCE. A morte dos refugiados que vêm por mar é o resultado de uma década de políticas horrorosas e desumanas, aplicadas sob o lema de “o barco está cheio” e aqui não há mais lugar para refugiados.
Os valores cristãos da Europa devem reflectir-se na política económica. Segundo o MTCE, o apoio aos governos corruptos na África e a exploração dos recursos naturais, os subsídios à agricultura europeia, os impostos alfandegários sobre os produtos africanos e os acordos de livre comércio que são impostos à custa da economia africana, estão a dar lugar a um êxodo de todo um continente. "Em vez de procurar estabelecer um acordo de isenção de livre comércio com os Estados Unidos, a Europa deve esforçar-se para conseguir um comércio mundial justo, tendo em conta o desenvolvimento e os interesses dos países africanos", disse Meier. A Europa deve abrir uma perspectiva económica aos países de África.
Valores europeus
O MTCE pede ao Governo Federal da Alemanha e à União Europeia que em vez de reduzir os programas de apoio para refugiados, aumentar ainda mais a vigilância das fronteiras (Frontex) e utilizar tropas alemãs para assegurar as vias comerciais, disponha destas forças para o resgate das embarcações e o apoio à Guarda Costeira italiana. O Movimento Europeu de Trabalhadores Cristãos pediu ao governo federal que intensifique a ajuda humanitária e ponha fim à política de inacessibilidade para os refugiados, tanto por terra como por mar. " Os valores europeus de solidariedade, caridade e justiça cristãs devem ser o fundamento das decisões políticas!"
EBCA-MTCE-ECWM