As origens do 1° de maio prendem-se
com a proposta dos trabalhadores organizados na Associação Internacional dos
Trabalhadores (AIT) declarar um dia de luta pelas oito horas de trabalho. Mas
foram os acontecimentos de Chicago, de 1886, que vieram dar-lhe o seu definitivo significado de dia
internacional de luta dos trabalhadores.
No século XIX era comum (situação que
se manteve até aos começos do século XX) o trabalho de crianças, grávidas e
trabalhadores ao longo de extenuantes jornadas de trabalho que reproduziam a
tradicional jornada de sol-a-sol dos agricultores. Vários reformadores sociais
já tinham proposto em várias épocas a ideia de dividir o dia em três períodos:
oito horas de trabalho, oito horas de sono e oito horas de lazer e estudo,
proposta que, como sempre, era vista como utópica, pelos realistas no poder.
Com o desenvolvimento do
associativismo operário, e particularmente do sindicalismo autónomo, a proposta
das 8 horas de jornada máxima, tornou-se um dos objetivos centrais das lutas
operárias, marcando o imaginário e a cultura operária durante décadas em que
foi importante fator de mobilização, mas, ao mesmo tempo, causa da violenta
repressão e das inúmeras prisões e mortes de trabalhadores.
Desde a década de 20 do século
passado, irromperam em várias locais greves pelas oitos horas, sendo os
operários ingleses dos primeiros a declarar greve com esse objetivo. Aos poucos
em França e por toda a Europa continental, depois nos EUA e na Austrália, a
luta pelas oitos horas tornou-se uma das reivindicações mais freqüentes que os
operários colocavam ao Capital e ao Estado.
Primeiro de Maio nasceu de uma tragédia!
Primeiro de Maio nasceu de uma tragédia!
Quando milhares de trabalhadores de
Chicago, tal como de muitas outras cidades americanas, foram para as ruas no 1°
de maio de 1886, seguindo os apelos dos sindicatos, não esperavam a tragédia
que marcaria para sempre esta data. No dia 4 de maio, durante novas
manifestações na Praça Haymarket, uma explosão no meio da manifestação serviu
como justificativa para a repressão brutal que seguiu, que provocou mais de 100
mortos e a prisão de dezenas de militantes operários e anarquistas.
Alberto Parsons um dos oradores do
comício de Haymarket, conhecido militante anarquista, tipógrafo de 39 anos, que
não tinha sido preso durante os acontecimentos, apresentou-se voluntariamente à
polícia tendo declarado: "Se é necessário subir também ao cadafalso pelos
direitos dos trabalhadores, pela causa da liberdade e para melhorar a sorte dos
oprimidos, aqui estou". Junto com August Spies, tipógrafo de 32 anos,
Adolf Fischer tipógrafo de 31 anos, George Engel tipógrafo de 51 anos, Ludwig
Lingg, carpinteiro de 23 anos, Michael Schwab, encadernador de 34 anos, Samuel
Fielden, operário têxtil de 39 anos e Oscar Neeb seriam julgados e condenados.
Tendo os quatro primeiros sido condenados à forca, Parsons, Fischer, Spies e
Engel executados em 11 de novembro de 1887, enquanto Lingg se suicidou na cela.
Augusto Spies declarou profeticamente, antes de morrer: "Virá o dia em que
o nosso silêncio será mais poderoso que as vozes que nos estrangulais
hoje".
Este episódio marcante do
sindicalismo, conhecido como os "Mártires de Chicago", tornou-se o
símbolo e marco para uma luta que a partir daí se generalizaria por todo o
mundo.
O crime do Estado americano, idêntico
ao de muitos outros Estados, que continuaram durante muitas décadas a reprimir
as lutas operárias, inclusive as manifestações de 1° de maio, era produto de
sociedades onde os interesses dominantes não necessitavam sequer ser
dissimulados. Na época, o Chicago Times afirmava: "A prisão e os trabalhos
forçados são a única solução adequada para a questão social",
Seis anos mais tarde, em 1893, a
condenação seria anulada e reconhecido o caráter político e persecutório do
julgamento, sendo então libertados os réus ainda presos, numa manifestação
comum do reconhecimento tardio do terror de Estado, que se viria a repetir no
também célebre episódio de Sacco e Vanzetti.
A partir da década de 90, com a
decisão do Congresso de 1888 da Federação do Trabalho Americana e do Congresso
Socialista de Paris, de 1889, declararem o primeiro de maio como dia
internacional de luta dos trabalhadores, o sindicalismo em todo o mundo adotou
essa data simbólica, mantendo-se até ao nosso século como um feriado ilegal,
que sempre gerava conflitos e repressão