Joaquim Mesquita, sindicalista há muitos anos numa empresa multinacional e dirigente da BASE-FUT escreve carta a D.Jorge Ortiga, Bispo responsável pelas questões sociais na Conferencia Episcopal Portuguesa, alertando-o para a situação do país num contexto de crise social grave e onde são os desempregados e pobres os que mais sofrem....
«Em certo momento da História da Humanidade, à multidão dos marginalizados foram proclamadas as bem-aventuranças. Alguém lhes fez perceber que vivendo em fraternidade era possível enxugar as lágrimas aos que choravam, matar a fome aos que entre si estavam famintos, fazer justiça aos humildes (pobres em espírito). Alguém fez entender a esta multidão que eram irmãos no mesmo Pai. E daí, partilhando, o milagre da multiplicação do pão concretizou-se.
O trabalho tem contribuído para o aparecimento de uma multidão de inadaptados e excluídos, devido a modelos reguladores desumanizantes. Uma minoria usa o trabalho como mecanismo para dominar uma imensa multidão de gente que empobrece. A este mecanismo junta outro, a manipulação perversa do sistema monetário. Pretende dominar precisamente pela pobreza, pela mão estendida. É assim que os que fazem parte dessa minoria mostram o seu poder, apresentando-se à sociedade como benfeitores.
A voz dos excluídos do nosso tempo transporta uma mensagem que não deve ser ignorada, e apresenta um desafio aos valores e princípios que a sociedade encerra. É-lhe devida uma atitude e uma resposta, também. Estes marginalizados aguardam que alguém lhes proclame as bem-aventuranças, que lhes digam que terminou o tempo das lágrimas e da fome, porque o Reino está a chegar: ele chega sempre que há alguém que se dispõe a viver em comunidade fraterna. E desse modo os mecanismos injustos e perversos são postos a nu, e denunciados.
Os pobres do nosso tempo precisam perceber que não estão sós. Que quem lhes anuncia um mundo novo está com eles, que sente e partilha a sua vida e as suas angústias. É no estar e na maneira de estar que os pobres e excluídos descobrem que os que lhes anunciam uma nova era são agentes portadores de carismas.
É sempre tempo de proclamar as Bem-Aventuranças, de proclamar a Boa Nova, de banir anátemas e ghettos, de fazer o milagre acontecer. É este o tempo da Igreja, onde todo o cristão tem uma tarefa a cumprir: contribuir para uma sociedade fraterna.
Humildemente, peço a Vossa bênção.
Paróquia de S. Pedro de Pardilhó, 18 de Outubro de 2012 »
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