CAPITALISMO E ALTERNATIVAS!


A Terceira Via, protagonizada pelos partidos sociais democratas da Europa (Tony Blair, Jospin, Scroder, Guterres e outros) em aliança com o partido democrata americano (Bill Clinton) ao aceitar a liberalização da economia, no compromisso de manter o Estado Social - que garantia a segurança, saúde, educação, previdência - claudicou por muitos e variados fatores. Desde causas internas, onde a corrupção partidária será uma das causas principais, mas também e sobretudo por causas externas e de estratégia.
Ao aceitar a globalização e a liberalização dos mercados, desde que contribuíssem com as suas rendas para o Estado Social, ao aceitar o crescimento de uma economia sem caracter social, ao aceitar a liberalização absoluta da organização dos grupos financeiros, criou um monstro com várias cabeças, qual “ Hidra de Lerna”, que domina todos os governos e países.
 O novo capitalismo de mercado, criou a nova empresa, baseada na marca, difundida pela publicidade, promovida por um capital anónimo, com sede num vão de escadas e conta bancária em qualquer paraíso fiscal, que contratualiza com os fabricantes em qualquer país, fazendo da figura dos antigos patrões meros capatazes e organizadores de produção. Ao aceitar a absoluta liberdade do mercado, o capital financeiro produziu dinheiro pelo aumento dos empréstimos sucessivos, cedendo avultadas somas a indivíduos que especulam com as ações de quem lhes emprestava o dinheiro, destruiu o capitalismo do pós guerra, tal qual nós o conhecemos e fomos criados, em que conhecíamos os nossos patrões e podíamos negociar a repartição do rendimento da empresa, entre o capital e o trabalho, tornando obsoleta a contratação coletiva.
Este modelo foi exportado para outros países com submissão aos grupos económicos que dominam os mercados de consumo. Talvez o principal erro estratégico foi aceitar uma globalização do capital sem um governo global. Um governo global que garantisse, se não a supremacia do poder político sobre o económico( conceito que tem sido pouco mais do que uma piedosa intenção), pelo menos a negociação e supervisão das mudanças, garantindo os direitos das pessoas, na sua mutação social de manufatores para consumidores. O segundo erro de estratégia foi aceitar que a criação de dinheiro deixasse de estar ligada com o crescimento de bens e serviços e passasse a aceitar a criação de dinheiro virtual, gerado pelo crescimento dos empréstimos sucessivos e pela especulação de produtos financeiros virtuais.
 Somos assim chegados a um estado de crises complexas, em que a mutação do capitalismo financeiro ocidental (à falta de melhor termo) se mistura com a crise da concorrência dos países chamados emergentes, onde os direitos dos seus trabalhadores nunca foram respeitados, onde grassa o trabalho infantil quase de escravatura e sobre os quais, só agora as classes médias europeias descobriram, porque os seus padrões de consumo foram postos em causa.
 Reflexão para uma alternativa
 Naturalmente que o problema que mais nos preocupa é a consequência da crise na vida das pessoas, sobretudo porque não as atinge a todas com a mesma dureza, gerando ainda mais desigualdades. Os desempregados e os reformados com baixos rendimentos são as pessoas que mais sofrem com a actual situação e, simultaneamente, são as que têm menos instrumentos de defesa. O mito da supremacia do indivíduo, desinserindo-o dos grupos sociais onde pertence, pretende libertar o individuo das teias culturais que as comunidades criam para a sua sobrevivência. As pessoas individualizadas, pretensamente mais livres, são presas fáceis do consumismo e das máquinas ideológicas das classes dominantes.
O desenvolvimento de redes de cooperação e de solidariedades, em comunidades geográficas ou novas comunidades virtuais, podem gerar alternativas diferentes? Como transformar os sindicatos em redes de cooperação e solidariedades? Os sindicatos que têm fundos de greve, apoios à saúde, etc. têm maior coesão interna, mas alguns ainda são corporativos e não integram todos os elementos das mesmas empresas. Os sindicatos de âmbito regional teriam mais possibilidades de criar redes de cooperação e solidariedades, alargar o seu âmbito a outros interesses dos associados que não os meramente sindicais, dar resposta aos reformados e desempregados. Contudo esta não pode ser uma proposta contra os atuais sindicatos.
Seria mais fácil a sua mutação se a mudança fosse tranquila. Mas se mesmo em altura de crise assistimos à fusão das empresas mas não assistimos à fusão dos sindicatos, como esperar que os seus dirigentes operem a mudança?
 José Ricardo militante associativo/membro da Comissão para os Assuntos do Trabalho da BASE-FUT

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