A BASE-FUT DEFENDE UM SINDICALISMO AUTÓNOMO!



O boletim «Amizade», órgão de comunicação de ex militantes da Juventude Operária Católica entrevistou Antonina Rodrigues, Coordenadora Nacional da BASE-FUT. Considerando o nosso património comum e a pertinência das questões colocadas por aquele Boletim achamos por bem publicar também a referida entrevista.
A Antonina é Licenciada em Ciências Sociais, com MBA em Gestão de PMS, e com Pós-Graduação em Gestão de Recursos Humanos.
Trabalha no IEFP-Instituto de Emprego e Formação Profissional, na área do emprego e é membro efetivo da Sub-Comissão de Trabalhadores do IEFP e ex-dirigente sindical.



Quando comparamos a situação atual da BASE-FUT com a que foi a sua energia e dinâmica nos anos 70 e 80, interrogamo-nos sobre o porquê desta constatação. Pode dar-nos a sua opinião acerca de semelhante realidade?

As dinâmicas de todas as organizações de trabalhadores e de outras associações são hoje muito diferentes em comparação com há 30 ou 40 anos atrás. O mundo mudou muito e diversos fatores subjetivos e objetivos contribuíram para a diminuição das dinâmicas sociais, políticas e sindicais. BASE - FUT também mudou e foi afetada pelos problemas comuns a outras organizações.Um deles é sem dúvida a dificuldade que teve em alargar e se rejuvenescer. É uma organização sui generis, nem é partido nem sindicato e não oferece lugares nem carreiras políticas! Oferece espaços de debate e reflexão, de formação e informação! Exige muito a quem adere, pois não é uma organização de massas mas antes de militantes sendo uma organização política de caráter global.

E, no entanto, temos de reconhecer que a realidade portuguesa continua a necessitar e a exigir uma ação idêntica, ou ainda maior, do que a verificada naqueles dois decénios. Porque não desencadear agora essa atividade?

 Sem dúvida que é hoje muito necessária uma BASE-FUT tão ativa como nos anos 70 e 80, são no entanto necessárias mais pessoas que queiram agir sindical e politicamente, nomeadamente nos sindicatos, nas associações, no novos movimento sociais de causas. Qualquer organização vive de pessoas ativas, cidadãs e que querem mexer socialmente!


Não será efetivamente uma pena vermos uma casa como aquela que a BASE-F.U.T. possui na zona de Coimbra- o Centro de Férias e tempos Livres- quase semiparalisada quando tanto há a fazer no domínio da formação e animação operaria e, particularmente, de formação sindical e do analfabetismo, para citar apenas alguns domínios?

 É verdade! Também lamentamos a situação e queremos dar nova vida ao CFTL. Para isso é muito importante relançar a BASE-FUT em Coimbra e em toda a Região Centro, com gente que se queira organizar, em parceria com outros movimentos, eventualmente formação operária e sindical. Temos desenvolvido várias iniciativas e a nossa avaliação é que tudo isto mudou muito e a formação e informação de trabalhadores deve ser repensada. O CFTL está disponível para o movimento associativo e sindical e não apenas para a BASE-FUT.

Não haverá alguns sectores determinados da realidade dos trabalhadores Portugueses - Como os Lanifícios, o Calçado, os Bancários, os Seguros, os Metalúrgicos (para só citar alguns) - que estão a exigir o regresso, em força, de um movimento como a BASE-FUT?
 Se o exigiriam não o vemos na prática!O sindicalismo hoje resume-se em grande medida ao «aparelho» sindical, aos dirigentes que , muito deles, conhecem a BASE-FUT, a sua história e atividade.Vemos que essas organizações têm a sua atividade rotineira, de profissionais, cada vez com mais dificuldades e algumas umbilicalmente ligadas aos grandes partidos de poder. A BASE-FUT defende um sindicalismo autónomo, dirigido pelos próprios trabalhadores em que os locais de trabalho são o centro de toda a atividade sindical. Foi e é uma perspetiva minoritária em Portugal mas é, a nosso ver, aquela que pode dar uma nova dinâmica às organizações de trabalhadores do futuro.

O trabalho precário em Portugal atinge, especialmente depois da "troika", dimensões verdadeiramente escandalosas. Que comentário lhe merece?
 As alterações à lei laboral que o governo de direita implementou veio permitir este incremento à precarização do trabalho que infelizmente não para de aumentar, embora o governo atual esteja já a tentar implementar algumas restrições (veja-se a nova lei sobre a restrição aos contratos de trabalho temporário) não sendo de longe o suficiente, teremos de continuar a lutar pela reversão destas leis que levaram à precarização e a pobreza dos trabalhadores

A Direita do nosso país ganhou uma força que lhe permite fazer exigências inimagináveis. Não precisará que a Esquerda se organize e reúna as condições para lhe responder?

Neste momento temos uma esquerda de consensos, teremos de aguardar (nunca deixando de ouvir a nossa voz) os resultados.

Em 22 de Julho faleceu uma das fundadoras da BASE-FUT, Maria Vitória Pinheiro, mulher que pelo seu talento, carisma e experiência deve ser apontada como exemplo às gerações futuras de militantes operários. Quer dizer algumas palavras a esse respeito?

A Maria Vitória Pinheiro foi uma mulher extraordinária e uma militante admirável não apenas dos Movimentos Católicos mas também da BASE-FUT e dos sindicatos ligados aos correios e telefones, pois foi uma das suas fundadoras! Vamos agora no dia 22 de outubro juntamente com a LOC e a JOC fazer-lhe uma merecida homenagem na sede da BASE-FUT e com a participação do Padre Jardim Gonçalves.
As edições BASE publicaram recentemente um opúsculo sobre a Vitória e são muitos os militantes que ainda se lembram dela, da sua solidariedade, trabalho e competência!












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