«a 3 de fevereiro de 1927 algumas unidades da guarnição militar do Porto sublevaram-se e com a colaboração da população civil ocuparam parte desta cidade.Travam-se combates com as forças fiéis do governo.
Em Lisboa o movimento não saiu.Nas hostes oposicionistas há movimentação e intranquilidade: há entrevistas e acercamentos com o comité revolucionário, contra quem todos conspiram.
«O MUNDO» órgão da Esquerda Democrática, em 2ª edição desse dia afirma convicto:«a ditadura, que há meses vimos suportando e se arrogara o direito de falar em nome do exército, afrontando-o,acaba de baquear».
Era a inabalável confiança na profecia, era o cuidado de preservar todas as instituições da democracia jacobina.
De Lisboa saíram forças militares para irem combater os insurretos do Porto.Os ferroviários do Sul e Sueste paralisaram e fizeram recolher todo o material circulante à estação da Casa Branca.
Na noite de 5 quando o movimento estava a desfalecer no Norte , a polícia invadiu a redacção de «A BATALHA» como represália contra as notícias que tinha publicado, prendendo quantos lá estavam e levaram-nos para a esquadra do Caminho Novo, para serem libertados na manhã de 7 quando o movimento revolucionário esperado acabara por eclodir em Lisboa.
Nesta manhã os marinheiros do quartel de Alcântara, arrastando com eles a GNR do quartel que existia em frente, e depois com a adesão da mesma Guarda do quartel da Estrela vão entrincheirar-se em S.Mamede, frente ao Largo do Rato, detidos pelas forças do governo estacionadas do lado das Amoreiras.
Os trabalhadores que seguiam para os trabalhos amontoam-se à porta das fábricas e os mais decididos abalam para acompanharem a insurreição.
Com um companheiro de oficina e de ideias sigo para o Rato.Muitos civis esperam obter armas que faltam e não chegam.
Venho para a sede da CGT..A luta centrou-se no Rato e nas Amoreiras e estendia-se pela Patriarcal até à Baixa, limitada pelo quartel do Carmo que se reservou neutral para depois amordaçar o acampamento revolucionário.
As forças militares rebeldes eram diminutas mas era o elemento civil o grande combatente e que seria também o último a ceder.
Quando se lutava em Lisboa já a rebelião tinha baqueado no Porto e o desfecho seria irremediável.Na manhã do dia 10 de Fevereiro, já limitado o seu espaço operacional, a revolução estava liquidada.A repressão ainda desordenada aumentava de furor...«A BATALHA» foi suspensa por determinação do governo e a sede da CGT estava controlada pela polícia.
A esperança ou até mesmo a convicção muito generalizada que a ditadura entre nós seria efémera e passageira desvanecia-se deixando cicatrizes ou traumas que se foram ampliando....»
(In Memórias de um militante anarco-sindicalista de Emídio Santana)
Ler mais
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário