Ocorre nos últimos tempos uma forte crise económica motivada pela globalização capitalista totalmente desprovida de preocupações de carácter social. O capitalismo aproveitando as circunstâncias deste momento histórico, tem sido o fomentador e o principal responsável pela mesma crise de que tira proveito, cujas principais consequências estão no empobrecimento progressivo de vastas camadas de população principalmente das mais débeis. Os trabalhadores vêm-se obrigados a perderem direitos, a reduzir as suas condições sociais, o que acaba no fundo por atingir toda a sociedade em geral.
O capital ao concretizar este modelo de globalização, aposta na redução dos
rendimentos do trabalho, permite e facilita as deslocalizações de empresas para
paraísos fiscais e ambientais e atinge o direito ao consumo, mesmo daquele que é
sustentável. Fazem-no sempre em nome do mercado e da lei da procura e da oferta.
Esta situação leva ao aumento da concorrência entre os produtos produzidos na Europa e
nos “paraísos”, fazendo crescer o número de desempregados e tornando o emprego cada
vez mais escasso nos países intermédios e nos desenvolvidos. As consequências fazem-se
logo sentir na diminuição ou destruição dos direitos sociais, condição fundamental para
a implementação de uma sociedade de carácter neo-liberal.
O desenvolvimento desta estratégia coloca debaixo de fogo a maioria dos trabalhadores
atacando os seus Sindicatos através de medidas legislativas adaptadas aos seus
objectivos neo-liberais. Assim, foram sendo eliminados ou reduzidos muitos direitos já
conquistados ao longo de muitos anos de sacrifícios e lutas. Considera-se que medidas de
desemprego maciço servem para domesticar os trabalhadores levando-os a aceitar mais
sacrifícios. Além disso, abriram-se campanhas de confusão sobre os seus direitos
adquiridos dando a ideia de que se trata de direitos menores, pouco legítimos, face á
crise. Pretendem destruir os direitos laborais à revelia da constituição porque nem
sequer se dignam respeitar os compromissos assinados em sede de concertação social
pelas partes, em especial aquela que diz respeito aos trabalhadores.
Esta estratégia tem ainda outra frente de ataque tentando credibilizar e instalar o
modelo neo-liberal. São os fazedores de opinião, nomeadamente através da manipulação
dos órgãos de comunicação social, muitos deles são propriedade dos grandes grupos
económicos ou interesses instalados.
SINDICATOS DEBAIXO DE FOGO
A organização Sindical é reivindicativa e defende os trabalhadores desde que foi criada
há muitos anos, por isso granjeou grande prestígio nas conquistas que alcançou na
negociação e na luta, dentro e fora das empresas. A sua existência é e tem sido uma
vantagem para os trabalhadores porque é uma organização representativa de pessoas e
colectivos, é activa e deve ser dirigida pelos próprios trabalhadores com total autonomia
e independência. É por isso que há um fortíssimo ataque aos Sindicatos pelo papel que
desempenham junto dos trabalhadores e da sociedade em geral, porque são a primeira
organizaçãoassociativa verdadeiramente vocacionada para a defesa dos trabalhadores,
mesmo aqueles que não são seus filiados estão abrangidos pelos benefícios e pelos
acordos negociados em contratação colectiva. A negociação dá garantias em muitas
matérias sociais como é o caso dos salários justos e dignos ou das garantias de acesso aos
direitos sociais mínimos já alcançados.
São os Sindicatos mais activos e conscientes, que mais lutam usando o seu poder
principalmente o da persuasão, arma usada muitas vezes sem terem os meios mínimos e
necessários para a acção Mas a razão e a vontade não têm deixado de motivar os
trabalhadores que de uma forma desigual, mas com os meios que possuem sempre
conseguem contrariar algumas tendências mais conformistas de abandono das causas e
das lutas por alguns Movimentos e Sindicatos mais conservadores.
Vivemos numa sociedade que ainda não beneficiou directamente dos enormes avanços
tecnológicos e capacidades produtivas agora ao seu alcance e que podem proporcionar
um melhor bem-estar e até garantir uma estabilidade nos empregos e nos direitos como
nunca antes foi atingido. Mas, o que se verifica é que se está a perder o futuro social ao
não se distribuir de forma justa as riquezas criadas pelos trabalhadores, a favor do
modelo de sociedade que só as distribui pelos accionistas e proprietários e apenas vê e
privilegia o desenvolvimento do “capital”.
Muitos políticos e economistas não se apercebem das desmotivações e receios existentes
no seio dos trabalhadores que actualmente sofrem sacrifícios e ameaças de
despedimentos, horários longos e mal pagos, deslocalizações e mesmo retaliações. Uma
nova chaga está chegar através do assédio moral nas empresas, levando muitos
trabalhadores ao stress e ao seu próprio suicídio.
Muitos trabalhadores aceitam penosamente os sacrifícios e partem mesmo para um certo
conformismo degradante para a sua auto-estima e o seu nível de vida. A mecanização,
automatização, a informática e novos métodos de gestão de recursos permitem como
eles dizem, dispensar (despedir) muitos milhares de trabalhadores em Portugal
ultrapassando o milhão (36% dos jovens dos quais 56% são mulheres). Por vezes os
trabalhadores são acusados de serem os causadores da crise pelo facto de alguns
receberem subsídio de desemprego, ou porque estão doentes e consomem
medicamentos, ou são velhos e recebem pensões, ou grávidas com licenças de
maternidade. Todos são apelidados de parasitas por inactividade que põe o país sem
capacidade competitiva. Os Sindicatos denunciam esta manipulação e querem um novo
crescimento da economia tomando em conta o desenvolvimento tecnológico e pondo-o
ao serviço também dos cidadãos.
Joao Lourenço, sindicalista e ex-dirigente da CGTP
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