Jose Manuel Vieira, sociólogo e militante da BASE-FUT, tem desenvolvido nos últimos tempos uma experiencia de animação de ateliers de escrita criativa, uns no âmbito do Centro de Formação e Tempos Livres e do Culture et Liberté e outros a solicitações que lhe fazem, nomeadamente de escolas. Aqui descreve uma das suas últimas experiencias que envolveu jovens estudantes e professores .
Tudo aconteceu por acaso. Num restaurante em Quarteira, onde entramos e a professora Arlete encontra o seu colega Luís. Fizeram-se apresentações e a Arlete põe-lhe ao corrente um atelier realizado na escola de Loulé, para professores, animado pelo José Vieira.
O professor Luís mostra-se interessado concretizar essa experiência na sua escola de Tavira. Trocam-se contactos e eis que em Outubro passado passamos à realização do mesmo. E aproveitando a ida do José Vieira ao Algarve, a professora Arlete organizou na Biblioteca da Escola dois ateliers de sensibilização para alunos do 10 e 11º anos.
Na Escola de Loulé
Assim, pensamos num programa diferenciado para esses dois grupos de alunos. No grupo da parte da manhã, os aprendentes eram 16, com idades compreendidas entre 14 a 16 anos. Os participantes aderiram facilmente ao esquema proposto e a partir dai divertiram-se com as palavras, criando textos que surpreenderam os próprios alunos do décimo ano.
Antes da avaliação dois participantes ofereceram-se para com a professora Arlete elaborarem um caderno, com alguns dos textos então criados.
Na avaliação escreveram-se e disseram coisas interessantes que marcaram muitos dos que sendo a primeira vez gostaram desta nova experiência, que desejam voltar a repetir.
Na parte da tarde, desse 25 de Outubro, prosseguiu-se a animação de um atelier com outra turma, de jovens entre os 17 a 27 anos. E aí a coisa piou mais fino, porque o grupo era maior, porque os interesses eram outros, porque estão habituados falar todos ao mesmo tempo, etc.
Foi difícil começar a apresentação e coesão do grupo. Durante 50 minutos não foi possível trabalhar, tal era o barulho. Chamaram a atenção do animador para o intervalo. No regresso o facilitador deu a ideia que ia abandonar a sala porque não era possível trabalhar. Levantou-se e cantou uma canção: “Eu vim de longe, de muito longe, o que andei para aqui chegar”… “com o que vos tenho para dar”. Fez silêncio. Sugeriu-se uma nova proposição “cadáver esquis”. A partir daí todos entram no jogo. O tempo passou tão rápido que no final dou a impressão que queriam mais. Fez-se uma avaliação assertiva e a maioria parte dos aprendentes demonstrou querer voltar a participar neste género de actividades informais, que ajuda a criar, aprender diferentemente, num espaço de laser e de amizade.
Escola de Tavira
Nesse sábado outonal de 27 de Outubro o dia apresentou-se soalheiro, com uma temperatura amena, convidativo sair para a praia e/ou para o campo. Porém, um grupo de dezasseis professores compareceram ao convite, desafio formulado pelo professor Luís Gonçalves.
A maior parte dos inscritos questionava-se sobre o que seria um atelier de escrita criativa. Não fazia a mínima ideia. E muitos vieram por curiosidade e para corresponder ao entusiasmo do professor Luís, despoletador da iniciativa.
Feito um enquadramento, com breves notas, passamos a uma apresentação interativa, dando tempo ao tempo, para que os participantes se conhecessem de uma forma diferente e muito informal. Passou-se à escrita de pequenos textos, começando pelas letras do nome de cada um dos aprendentes. Leram-se textos, aqueles que quiseram. Trocaram-se gestos, fizeram-se sinais, ouviram-se vozes, os sons das palavras, uns aos outros. Fizeram-se tempos de silêncio.
Continuamos após um breve intervalo para tomar um cafezinho com uns bolos que o Luís teve o carinho de trazer, ou simplesmente para beber água e desentorpecer os músculos. A dose passou a aumentar a bom ritmo, sempre na tónica de escrever, escrevendo espontaneamente, dentro do mote que o animador ia sugerindo. Voltou-se a ler os textos produzidos. Era tempo de almoço. Parte dos participantes foram a casa almoçar, porque os tempos estão difíceis. Só alguns (que ainda se podem dar ao luxo de almoçar fora) foram ao restaurante à beira mar, com uma bela vista. As conversas continuaram sem quebras entre o que se fazia com prazer em sala e naquele outro espaço público.
Voltar a repetir!
Mas era tempo de regressar à sala para continuar. Agora, o grupo era mais pequeno (doze). Prosseguindo as sugestões do animador, a escrita soltava-se, os aprendentes saboreavam o que cada um ia criando livremente. Fizeram-se textos, uns mais bonitos que outros, é verdade. Ouviam-se as palavras, os sons, os gestos, os silêncios, as lágrimas deste e daquele, aqui e além, enfim as pessoas libertavam-se.
Veio a avaliação e todos manifestaram por escrito as suas opiniões, os seus questionamentos, mas também os seus desejos de voltar a repetir este tipo de formação ou outro no género, que segundo os aprendentes lhes possibilita ver diferentemente, retirar ilações para a sua vida prática e talvez possam aplicar outras metodologias de trabalho com os seus alunos. Numa palavra valeu a pena. E dois professores recolheram os textos, com os quais vão elaborar um caderno que servirá de instrumento de trabalho, estando disponível na Biblioteca da Escola.
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