SINDICALISMO HOJE!


A Comissão para os Assuntos do Trabalho da BASE-FUT  (Região do Porto /Norte) organizou no passado sábado , dia 19 de janeiro um Encontro sobre o papel do sindicalismo hoje:Apresentamos o texto final dessa reunião:

«A Base-Fut continua o seu percurso em busca de respostas às realidades que afectam as pessoas e os trabalhadores. É fundamental que num mundo em constante transformação, os cidadãos participem na busca de respostas colectivas face aos desafios colocados.

Foi com esta realidade que se realizou um encontro para reflectir sobre o momento do sindicalismo. Surgem novos movimentos de trabalhadores e de cidadania, muitas empresas com uma forte organização sindical encerraram as portas devido à crise instalada, muitas novas profissões surgem em novos ambientes. As organizações de trabalhadores são chamadas a moldarem-se face a essas mudanças para responderem aos desígnios.

O sindicalismo continua a ser:

 Sinal de liberdade;

 Sinal de solidariedade;

 Responsabilidade humana;

 Dignidade dos trabalhadores.

Estes princípios, continuam a nortear todos os sindicalistas e as organizações de trabalhadores, mas existem factores que não podem ser descorados e que dificultam a acção dos mesmos, tais como:

 Encerramento de muitas empresas e sectores profissionais;

 Alteração das estruturas empresariais;

 Diminuição das quotizações;

 Organização dos trabalhadores;

 Alterações sucessivas da legislação laboral;

 Menor número de sindicalizados;

 Dificuldade em acordos de contratação colectiva;

 Preparação/formação dos dirigentes e delegados sindicais.

Os sindicatos e as organizações de trabalhadores devem alargar as ofertas aos trabalhadores, aumentando e melhorando a capacidade de resposta, obtendo uma relação mais profícua com os associados e cumprindo o seu objectivo em contribuir efectivamente para a melhoria da qualidade de vida dos mesmos. Os direitos que demoraram décadas a construir e a conquistar, não são apenas direitos do trabalho, mas sim, direitos comunitários!

Deve-se também mudar a forma como até hoje se combateu contra o capitalismo, devendo ser usada uma nova abordagem, mais em negociação. A CGTP-IN deve optar cada vez mais pela concertação, pela busca de respostas colectivas e não tanto pela luta em prol do desgaste do capitalismo. Para atingir este desiderato, é necessário formar melhor e com outras perspectivas todos os sindicalistas e trabalhadores, conferindo-lhe outras ferramentas intelectuais e de metodologia até hoje poucas vezes utilizada. Com esta investida atingir-se-á outro objectivo: Maior solidariedade, equidade e crescimento cultural.

Neste mundo conturbado e onde a incógnita é a maior certeza, a formação efectiva e colectiva de novos e renovados líderes é fundamental para prosseguir o caminho da libertação humana. É fundamental o aparecimento de novas pessoas com ideias, bem formadas técnica e culturalmente, que sejam aglutinadoras na construção de novas políticas, de implementação local, mas coordenadas globalmente, onde estão hoje os centros de decisão mundiais. A realidade de hoje obriga a olhar para o mundo de trabalho, com uma visão global, onde o capital circula muito rapidamente inter-países, onde as empresas abrem e fecham a sua actividade em qualquer parte do mundo, onde os regimes fiscais e o custo dos produtos sejam mais baratos, onde a legislação laboral é mais flexível e as regras em relação ao ambiente e à segurança dos trabalhadores ou é inexistente ou muito diminuta.

Por todas estas realidades, entende-se que o sindicalismo e a organização dos trabalhadores, nunca foi tão necessária como hoje, que é necessário ter muita coragem para se ser sindicalista ou sindicalizado, que todos querem um emprego e que a relação contratual tem direitos e deveres, que as centrais sindicais internacionais devem servir de pivots e motor para a melhoria das condições humanas e de trabalho, impulsionando acções de luta internacionais e que a comunicação deve ser desenvolvida e melhorada.

O sindicalismo continuará a depender muito do nível de participação social e cívica das pessoas e os resultados dependerão desse envolvimento e compromisso colectivo.»



Porto, 19 de Janeiro de 2013



1 comentário:

A.Brandão Guedes disse...


Comentário enviado pelo josé Ricardo:
A única questão política que me parece importante ressaltar da nossa reunião e que não está contemplada na síntese nem nas preocupações prioritárias da agenda da BASE, é que numa perspetiva de negociação com os empregadores, a redução ou suspensão de direitos adquiridos pelos trabalhadores, em razão da necessidade de competitividade de preços em função do mercado, deve estar integrada numa política de co-determinação dos trabalhadores na gestão da empresa e na concertação dos valores atribuídos à administração do capital.
Esta transparência é absolutamente necessária para não cairmos na aceitação de redução dos direitos dos trabalhadores para engrossar os lucros do capital.
Esta cogestão, entendida por alguns como uma cedência ideológica ao capital, é a única forma de alguma vez, no futuro, os trabalhadores virem a conseguir a sua autodeterminação, pelo conhecimento necessário e cada vez mais exigente, na gestão das empresas.
Não podemos desagregar os direitos de quem trabalha da função de gestão e da sua necessária implicação nas decisões.
É este sentido de propriedade da empresa por parte do capital que coloca os trabalhadores como descartáveis e substituíveis. É este entendimento da empresa não ser “nossa”, mas “deles”, que coloca os trabalhadores numa cultura de alheamento e dependência e naturalmente, pouco interessados em colaborar com “o patrão e dono” da empresa.
Sendo difícil prever a aceitação desta política de co-determinação nas nossas pequenas empresas com donos pouco esclarecidos, ela é de fácil aceitação nas novas empresas mais tecnológicas e mais evoluídas.
Esta medida política da co-determinação e da implicação dos trabalhadores na gestão das empresas, foi apresentada pelo EZA no seminário de Madrid, mas não me parece que em Portugal lhe tenhamos dada a devida importância e operacionalização. O facto da BASE preconizar a autogestão deveria ser um motivo importante para impulsionar a co-determinação ou co-gestão, como etapa necessária na aprendizagem de gestão.