AMÉRICO M0NTEIRO: os sindicatos são fundamentais para os trabalhadores!



Américo Monteiro nasceu  numa família operária minhota de cultura católica despertando cedo para a ação no Movimento JOC  e, mais tarde, nos movimentos operários católicos de adultos onde tem assumido diversas responsabilidades.É um verdadeiro autodidata e a sua principal escola, para além daqueles movimentos da Igreja Católica tem sido o movimento sindical, nomeadamente o Sindicato do Comércio e Serviços do Minho, CESMINHO, e a Comissão Executiva da CGTP.Nesta Central é o Responsável pelo Departamento para o Desenvolvimento Sustentável,Ambiente,Consumidores e Economia Social. 0s sindicalistas e técnicos deste Departamento têm produzido documentos inovadores nestas matérias com uma linguagem não apenas acessível, mas também rigorosa.
Sempre que pode, participa nas reuniões da Comissão para os Assuntos do Trabalho da BASE-
FUT, contribuindo aí com a sua larga experiência para a reflexão desta Comissão.


Já escreveste sobre os principais problemas que hoje o sindicalismo enfrenta. Queres referir os dois ou três mais importantes?

Um dos assuntos que abordo frequentemente por escrito e em conversas é a importância de estar sindicalizado. As vantagens de ser parte de um coletivo de trabalhadores, que dá força aqueles que em determinados níveis da estrutura, negoceiam e defendem direitos e a contratação coletiva… É através do seu sindicato que os trabalhadores adquirem mais informação sobre os problemas laborais e tomam consciência da importância da solidariedade entre os trabalhadores ao nível local e global.
Nos tempos que correm, preocupa-me também que, o sindicalismo dê a ideia, de que cada sector de atividade, cada empresa ou região, estão mais preocupados em resolver o seu problema, em afirmar as suas reivindicações individuais, demonstrando egoísmos que não deviam existir. Entendo que devíamos estar a aproveitar estes tempos de grandes desafios que se vivem em Portugal, para repensar o Sindicalismo, a sua afirmação e representação. Os sindicatos foram, são e serão fundamentais para a vida dos trabalhadores, dos povos e da democracia por esse mundo fora.

Hoje a maioria dos problemas económicos e sociais são globais. O sindicalismo está a enfrentar esta situação com eficácia ou há que dar passos neste capítulo?

Quando entramos na União Europeia, o grande desígnio era a construção do Modelo Social Europeu no sentido de resolver as grandes carências/assimetrias que ainda pesavam sobre alguns povos da Europa e de outros que ainda se previa virem a aderir. Ora, nos tempos que correm, nada disto se perspetiva. Uma determinada elite capitalista, liberalista, tomou  o poder das estruturas europeias e o que protege é o capital, o lucro dos grandes grupos económicos.
O sindicalismo na Europa é de grande diversidade, as dificuldades são muitas, a realidade dos trabalhadores é muito diferente entre si e isso repercute-se nas diferentes respostas e nos diferentes conceitos de lutas a travar e de definição de objetivos.
Penso que se deveria estar a repensar soluções e encontrar respostas diferentes para problemas novos que surgem a cada dia e não sinto que isso esteja a acontecer.
Em Portugal e na Europa fomos confrontados com sucessivos planos de austeridade que representam um verdadeiro retrocesso social. A crise que vivemos e que vivem os sindicatos e o associativismo em geral, exige uma profunda reflexão para que ancorados na experiência sindical passada, consigamos encontrar novas estratégias e práticas que reforcem a capacidade das associações de trabalhadores, os sindicatos, de influenciar realmente os acontecimentos para que estes se tornem favoráveis aos trabalhadores e aos mais desfavorecidos da sociedade.

Para além de dirigente da CGTP também tens responsabilidades ao nível dos movimentos católicos de trabalhadores. Como consegues fazer essa articulação? Nessa dupla condição como vives os problemas dos trabalhadores?

Não há aqui dupla condição, nenhuma. Fui militante e dirigente da Juventude Operária católica e depois mais adulto tornei-me militante da Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos, de que sou neste momento também dirigente nacional. Foram os conhecimentos aqui adquiridos e a minha sensibilidade, que sempre me impeliram a este compromisso militante junto dos operários, das classes mais desfavorecidas, dos trabalhadores e que hoje engloba também uma imensidão de trabalhadores sem trabalho (desempregados) ou que apesar de trabalhar vivem na pobreza.
Nesta minha vocação de servir os trabalhadores, ocorreu entre muitas outras coisas, de agora ser dirigente de um sindicato local no Minho (CESMINHO) e ter sido desafiado por camaradas desta sensibilidade, para aceitar fazer parte da direção da CGTP-IN. Aqui estou com grande empenho, procurando ser fiel em especial aos trabalhadores do meio que faço parte, que são a minha raiz e aos valores da cidadania, profundamente empenhado na construção de um mundo onde impere a justiça, a solidariedade e a liberdade.

Como aprecias esta solução política saída das últimas eleições, governo PS com apoio parlamentar dos restantes partidos da esquerda?

A atual forma governativa tem todo um lastro anterior de lutas sociais em que muitos de nós estiveram empenhados e que levaram a que esta “saída” fosse possível. Podemos dizer que estavam as pessoas certas, nos lugares certos, no momento necessário e de grande exigência. Era ouvido com frequência por quase todo povo de esquerda a interrogação, mas porque é que esta gente não se entende? Como vemos, perante as adversidades, foi possível uma plataforma mínima de entendimento.
Sinto é que é necessário continuar a fazer todos os esforços, para clarificar aquilo que são denominadores comuns, entre os parceiros e outros atores sociais, no sentido de alargar o entendimento atual a outros aspetos que são necessários ao país e aos trabalhadores e assim aprofundar esse entendimento em proveito dos mais necessitados e do País em geral.

30 de Janeiro de 2017

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